19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Agora não – disse Amhal a <strong>Adhara</strong>, que <strong>de</strong>cidira ficar com ele. E trancou-se na própria<br />

barraca. Lá fora, burburinho. As pessoas começavam a fazer perguntas, a querer saber se San era<br />

realmente culpa<strong>do</strong> ou se havia si<strong>do</strong> enreda<strong>do</strong>, esmaga<strong>do</strong> por engrenagens mais fortes que ele.<br />

Amhal não tirava da cabeça aquelas palavras: o rei Neor. O que acontecera com o rei Learco?<br />

Mas nada disso tinha importância. O que contava mesmo era o que San dissera, a última<br />

imagem que tinha <strong>de</strong>le, <strong>de</strong>sarma<strong>do</strong>, enquanto era leva<strong>do</strong> embora.<br />

Tinha a impressão <strong>de</strong> ter acorda<strong>do</strong> após um longo sonho, para precipitar num novo pesa<strong>de</strong>lo.<br />

Porque <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a morte <strong>de</strong> Mira não fizera outra coisa a não ser <strong>do</strong>rmir, buscan<strong>do</strong> naquele sono<br />

uma paz que sabia não lhe pertencer. Agira <strong>de</strong> forma irracional. Só preocupa<strong>do</strong> em fugir para o<br />

mais longe possível <strong>de</strong> si mesmo e da sombra <strong>do</strong> mestre, <strong>de</strong>ixara <strong>de</strong> pensar nas coisas realmente<br />

importantes: quem matara Mira e por quê? E agora essas perguntas <strong>de</strong>spontavam violentamente<br />

na consciência, com terríveis respostas.<br />

San?<br />

Seria San realmente capaz <strong>de</strong> fazer uma coisa <strong>de</strong>ssas? E com que fim? Só <strong>de</strong> pensar nisto<br />

ficava transtorna<strong>do</strong>. Significava ter erra<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, ter participa<strong>do</strong> <strong>de</strong> um plano criminoso <strong>do</strong> qual<br />

nem conseguia enten<strong>de</strong>r o senti<strong>do</strong>. Queria dizer que o caminho escuro no qual se metera era muito<br />

mais horrível <strong>do</strong> que imaginara. Não, San era um homem terrível, isto ele já sabia, mas não era<br />

pior <strong>do</strong> que ele mesmo. Uma criatura da noite, realmente parecida com ele, e como ele <strong>de</strong>stinada<br />

a alguma coisa. Mas não podia ter cometi<strong>do</strong> um crime como aquele. Acreditava nos ensinamentos<br />

<strong>do</strong> homem, nas suas certezas a respeito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e da vida, confiava na sua espada e na sua<br />

magia. Assim sen<strong>do</strong>, não podia ter si<strong>do</strong> ele. Só <strong>de</strong> pensar nisto ficava dilacera<strong>do</strong>, enlouqueci<strong>do</strong>.<br />

Havia si<strong>do</strong> Neor, então? Um plano para conseguir o po<strong>de</strong>r? E o que acontecera com Learco?<br />

Amhal pensou nos meses passa<strong>do</strong>s na corte, no tempo <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> à <strong>de</strong>fesa da família real. Nunca<br />

chegara <strong>de</strong> fato a conhecer nenhum <strong>de</strong>les. A imagem mais viva na sua mente era a <strong>de</strong> Amina, e<br />

apenas por aquele dia feliz que haviam passa<strong>do</strong> juntos, ele, a princesa e <strong>Adhara</strong>. A lembrança<br />

daquele dia <strong>de</strong>u-lhe um aperto no coração. Learco era simplesmente uma figura mítica. Via-o <strong>do</strong><br />

mesmo jeito com que se olham as imagens <strong>de</strong>senhadas nos livros, como os heróis que aparecem<br />

nos afrescos ou nos mosaicos. Percebeu que sempre o julgara através <strong>do</strong>s olhos <strong>do</strong> seu mestre.<br />

Mira confiava em Learco, <strong>de</strong>dicara-lhe toda a sua vida, estava disposto a morrer por ele.<br />

“Nem tanto por ele, embora seja um gran<strong>de</strong> homem, quanto por aquilo que fez, pela força <strong>do</strong><br />

seu sonho. Deu-nos esperança, transformou em realida<strong>de</strong> uma vaga aspiração, um <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong><br />

nosso coração. É por isto que jurei protegê-lo até a morte”, dissera-lhe certo dia, e agora aquelas<br />

palavras encheram seu peito <strong>de</strong> pungente sauda<strong>de</strong>.<br />

Mas quanto ao filho? Nada sabia <strong>de</strong> Neor. Nunca tivera maiores contatos com ele. Gozava <strong>de</strong><br />

uma boa reputação na corte. Claro, sempre havia alguém que via com <strong>de</strong>sconfiança a sua<br />

inteligência brilhante, a maneira pela qual pouco a pouco conseguira tornar-se o principal<br />

conselheiro <strong>do</strong> pai e, na prática, o verda<strong>de</strong>iro soberano da Terra <strong>do</strong> Sol. Mas eram malda<strong>de</strong>s<br />

murmuradas baixinho por pessoas invejosas. De repente, no entanto, assumiam a consistência <strong>de</strong><br />

provas, <strong>de</strong> indícios que <strong>de</strong>veriam ter alerta<strong>do</strong> as suas suspeitas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo. O que Mira<br />

dizia <strong>de</strong> Neor? Quase nada.<br />

“Seria um bom rei, digno substituto <strong>do</strong> pai, se não tivesse sofri<strong>do</strong> o aci<strong>de</strong>nte.” Foi o que<br />

dissera certa vez. Muito pouco.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!