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Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

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– O que aconteceu? – perguntou <strong>Adhara</strong> naquela noite.<br />

Amhal acreditava estar com a mesma aparência <strong>de</strong> sempre. Ninguém, na base, fizera perguntas,<br />

ninguém percebera coisa alguma. Tinha retira<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>samente o sangue da lâmina da espada.<br />

Mas ela vira algo diferente em seus olhos.<br />

Apoiou a mão no seu braço.<br />

– O que aconteceu? – repetiu.<br />

Diante daquele olhar, sentiu-se nu e perdi<strong>do</strong>. E compreen<strong>de</strong>u que <strong>Adhara</strong> estava além da<br />

fronteira que ele superara naquela manhã. Quem ele per<strong>de</strong>ra para sempre era ela, enquanto se<br />

entregava à se<strong>de</strong> <strong>de</strong> sangue. E nunca po<strong>de</strong>ria contar-lhe o que tinha feito.<br />

– Nada <strong>de</strong> mais – respon<strong>de</strong>u. – Mera rotina.<br />

– Está estranho, Amhal... mais estranho que <strong>de</strong> costume.<br />

– Mas o que diabo espera <strong>de</strong> mim? Será que não percebe on<strong>de</strong> estamos? Você também vê os<br />

<strong>do</strong>entes, to<strong>do</strong>s os dias, os vê agonizar e morrer, homens, mulheres e crianças. E ainda quer saber<br />

o que há comigo? Estou cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> morte, eis o que há! – berrou até a garganta <strong>do</strong>er. Esperou<br />

que ela o esbofeteasse e se afastasse indignada.<br />

Permaneceu on<strong>de</strong> estava.<br />

– Vamos embora – disse baixinho. – Não é certamente aqui que você vai encontrar a paz.<br />

Não, não era a paz que ele tinha vin<strong>do</strong> procurar, agora ele sabia. Des<strong>de</strong> o primeiro momento só<br />

tinha busca<strong>do</strong> a loucura. Porque quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>r vence, quan<strong>do</strong> a esperança se esvai, a loucura é a<br />

única saída. E ele escolhera este caminho <strong>de</strong> propósito.<br />

– Não há como voltar <strong>de</strong>ste lugar.<br />

– É o que você pensa.<br />

– Você não sabe <strong>de</strong> nada – disse, aproximan<strong>do</strong>-se perigosamente <strong>do</strong> rosto <strong>de</strong>la. – Nunca soube.<br />

Achou que podia ensinar-me alguma coisa pela sua experiência <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r enten<strong>de</strong>r a mim<br />

quan<strong>do</strong> nem é capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a si mesma.<br />

<strong>Adhara</strong> sorriu.<br />

– Acha que, agin<strong>do</strong> assim, eu irei embora? Está queren<strong>do</strong> assustar-me, humilhar-me? Só<br />

conseguirá tirar-me daqui com a violência.<br />

Ficou apavora<strong>do</strong>. Aterroriza<strong>do</strong> diante daquele amor, daquela cega perseverança, daquela<br />

força. Por que não fui com ela quan<strong>do</strong> ainda podia? Por que não confiei nela?<br />

A resposta era óbvia até <strong>de</strong>mais. Porque ele tinha <strong>de</strong> se ver com a fúria, e sempre teria.<br />

– Vou voltar à minha tenda – disse, e <strong>de</strong>u as costas.<br />

– Seja o que for que houve esta manhã – gritou ela –, sempre existe um jeito <strong>de</strong> voltar atrás.<br />

Sempre!<br />

Enquanto se afastava, Amhal sentiu duas lágrimas queimarem-lhe as faces.<br />

A mudança para Nova Enawar não fora fácil. Tu<strong>do</strong> acontecera <strong>de</strong> repente, e a chegada da corte<br />

<strong>de</strong>ixara em pânico os funcionários <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Conselho. Tiveram <strong>de</strong> arrumar espaço, <strong>de</strong><br />

aprontar acomodações para to<strong>do</strong>s.<br />

Em seguida, a vida retomara o seu curso com uma aparência <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>. Mas estavam

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