19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Oito dias atrás.<br />

O que estava fazen<strong>do</strong>, oito dias antes, enquanto o pai agonizava na cama, longe <strong>de</strong>le, quem sabe<br />

invocan<strong>do</strong> o seu nome?<br />

– Por que está me contan<strong>do</strong> só agora?<br />

– Eu mesma queria dar-lhe a notícia.<br />

Neor voltou a baixar a cabeça. Não queria chorar, não agora. Os tempos pediam coragem,<br />

ânimo e firmeza. Olhan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, não via nada disto. E então era preciso fingir, era<br />

necessário que o fingimento bastasse.<br />

– Foi uma longa agonia... – murmurou consigo mesmo.<br />

– Ficou inconsciente quan<strong>do</strong> vocês partiram e não voltou a recobrar os senti<strong>do</strong>s. Não creio que<br />

tenha sofri<strong>do</strong> – disse Theana. – E além <strong>do</strong> mais partiu saben<strong>do</strong> que havia você, que você saberia<br />

fazer o que precisava ser feito.<br />

Neor fechou os olhos. A pergunta queimava na sua garganta, já não podia adiá-la.<br />

– Perguntou por mim? – murmurou, sem coragem <strong>de</strong> levantar a cabeça.<br />

Theana aproximou-se um pouco da barreira, esticou a mão para ele. Neor <strong>de</strong>sejou que aquela<br />

mão pu<strong>de</strong>sse tocá-lo, acariciá-lo, no seu último momento na condição <strong>de</strong> filho.<br />

– Não. Não perguntou. E sua mãe tampouco. Ambos sabiam, e enten<strong>de</strong>ram. Você fez a coisa<br />

certa.<br />

E então Neor chorou, abertamente, imaginan<strong>do</strong> a morte solitária <strong>do</strong> pai, Learco, o Justo, que<br />

tinha feito alguma coisa que ninguém conseguira antes: dar cinquenta anos <strong>de</strong> paz ao Mun<strong>do</strong><br />

Emerso. E partira sozinho, sem po<strong>de</strong>r dizer a<strong>de</strong>us ao filho, <strong>de</strong>liran<strong>do</strong> e sangran<strong>do</strong> num leito,<br />

como um homem qualquer.<br />

Theana ficou olhan<strong>do</strong> para ele em silêncio. Já tinha chora<strong>do</strong> as suas lágrimas, não havia mais.<br />

– E minha mãe? – perguntou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acalmar-se.<br />

– A<strong>do</strong>eceu três dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le. Mas a <strong>do</strong>ença é menos virulenta <strong>do</strong> que a <strong>do</strong> seu pai. Quan<strong>do</strong><br />

a <strong>de</strong>ixei, parecia estar prestes a se recuperar.<br />

Neor teve um momento <strong>de</strong> alívio. Não tinha fica<strong>do</strong> só, afinal <strong>de</strong> contas.<br />

– Quan<strong>do</strong> já estiver boa, convença-a a vir para cá. Preciso <strong>de</strong>la.<br />

Theana sorriu.<br />

– Está irrequieta, não aguenta ficar parada. Não parou nem mesmo quan<strong>do</strong> ficou <strong>do</strong>ente:<br />

sempre à cabeceira da cama <strong>do</strong> seu pai, sempre ativa, até quan<strong>do</strong> a febre a <strong>de</strong>vorava. É o jeito <strong>de</strong><br />

ela respon<strong>de</strong>r ao sofrimento. O jeito <strong>de</strong> vocês.<br />

Neor nada disse. A coragem <strong>de</strong>le, pensou, nem chegava aos pés daquela da mãe.<br />

– Estão procuran<strong>do</strong> uma cura? Ou alguma coisa que evite o contágio?<br />

– Noite e dia. Eu parei um pouco na tentativa <strong>de</strong> salvar o seu pai, mas os outros irmãos<br />

continuam trabalhan<strong>do</strong>. Você nem imagina quantos <strong>de</strong>les morreram, quantos estão sacrifican<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> neste senti<strong>do</strong>.<br />

– E...?<br />

– Nada – disse ela, enquanto uma ruga <strong>de</strong> <strong>do</strong>r se <strong>de</strong>senhava em seu rosto. – O segre<strong>do</strong> está no

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!