Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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consistência e sem qualquer timbre particular, anônima, <strong>de</strong>sencarnada. Nada que pu<strong>de</strong>sse ser-lhe<br />
útil.<br />
Levantou-se <strong>de</strong> um pulo, correu para fora da tenda. Acabava <strong>de</strong> ter uma i<strong>de</strong>ia.<br />
Sem fôlego, precipitou-se para o recinto <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes. Havia muitos magos por lá. Encontraria<br />
na certa alguém disposto a ajudá-la.<br />
Na verda<strong>de</strong>, naqueles dias, não ficara particularmente amiga <strong>de</strong> ninguém. Havia uma difusa<br />
solidarieda<strong>de</strong> que unia to<strong>do</strong>s os que trabalhavam ali, a comunhão no sofrimento, mas ela só<br />
trocara umas poucas palavras com os colegas <strong>de</strong> serviço. E agora tinha <strong>de</strong> confiar num <strong>de</strong>les, sem<br />
mais nem menos, às cegas.<br />
Entrou, e o cheiro <strong>de</strong> sangue e morte apertou sua garganta, como sempre acontecia. Era uma<br />
coisa com a qual era impossível se acostumar. Deixou o olhar correr pelos inúmeros catres on<strong>de</strong><br />
os <strong>do</strong>entes agonizavam aflitos, entre ataduras sangrentas e pungentes lamentações. Olhou para<br />
eles sem vê-los, procuran<strong>do</strong>. Um mago. Um jovem, com a pele <strong>do</strong>s braços completamente<br />
manchada <strong>de</strong> preto. Dirigiu-se rapidamente para ele. Tinham cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> um <strong>do</strong>ente juntos, no<br />
primeiro dia, e o rapaz fora uma espécie <strong>de</strong> guia para ela. Haviam acompanha<strong>do</strong> os <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iros<br />
suspiros <strong>do</strong> pobre coita<strong>do</strong>, e coubera a ele fechar-lhe os olhos vidra<strong>do</strong>s pela morte.<br />
Isto criou um liame entre nós, disse a si mesma, enquanto avançava com longas passadas.<br />
Estava impon<strong>do</strong> um bran<strong>do</strong> encantamento curativo a um moribun<strong>do</strong>. Nada mais que um<br />
paliativo para aliviar o sofrimento. O rapaz nem olhou para ela.<br />
– Está atrasada – disse com uma voz entediante.<br />
– Preciso <strong>de</strong> você – rebateu ela, e o seu tom <strong>de</strong>via soar terrível, pois o mago levantou<br />
imediatamente a cabeça.<br />
Explicou.<br />
– É <strong>de</strong>serção – falou ele baixinho. – É traição – acrescentou.<br />
– Não conte para ninguém, eu lhe peço.<br />
– Eu...<br />
Segurou o braço <strong>de</strong>le.<br />
– Eu suplico, estou <strong>de</strong>sesperada.<br />
Contou o que tencionava fazer, humilhou-se dizen<strong>do</strong> que amava aquele rapaz mais <strong>do</strong> que a si<br />
mesma, que tinha <strong>de</strong> salvá-lo a qualquer custo.<br />
– Mas o está entregan<strong>do</strong> – objetou ele.<br />
– Preciso, <strong>do</strong> contrário ele morrerá – replicou ela, resoluta.<br />
O mago olhou fixamente para ela por alguns segun<strong>do</strong>s, confuso. Então sorriu <strong>de</strong> leve.<br />
– Está bem – disse simplesmente. – Está bem. – E <strong>Adhara</strong> suspirou aliviada. – Mas há um<br />
problema.<br />
Mais uma vez, ela achou que o mun<strong>do</strong> ia <strong>de</strong>smoronar e sepultá-la.<br />
– A pessoa que recebe a mensagem precisa conhecer a magia. Explico: o <strong>de</strong>stinatário verá uma<br />
nuvenzinha roxa. Para ler a mensagem é preciso que o mago con<strong>de</strong>nse a fumaça num pergaminho<br />
com um encantamento.