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Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

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envolveu a pequena multidão, um calor escaldante dissolveu-a, literalmente. Quan<strong>do</strong> voltou o<br />

silêncio, sete cadáveres carboniza<strong>do</strong>s jaziam no chão. Mas não tinha acaba<strong>do</strong>. Amhal ficou <strong>de</strong><br />

pé, com um movimento flui<strong>do</strong> sacou a espada e <strong>de</strong>ixou a raiva correr solta.<br />

As pessoas começaram a fugir apavoradas, mas seus gritos só conseguiam excitá-lo. Perseguiu<br />

uma por uma, <strong>de</strong>sentocan<strong>do</strong>-as <strong>de</strong> suas casas, chacinan<strong>do</strong>-as sem misericórdia on<strong>de</strong> as<br />

encontrasse. Homens, mulheres, crianças, velhos. Não fazia diferença. Só queria matar to<strong>do</strong>s.<br />

Percebia San ao seu la<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong> a mesma coisa, e sentia-se em comunhão com ele. Eram<br />

membros diferentes da mesma mente, agiam em uníssono. As vítimas <strong>de</strong> um eram as vítimas <strong>do</strong><br />

outro, e vice-versa, numa espécie <strong>de</strong> êxtase blasfemo. Só pararam quan<strong>do</strong> já não sobrava mais<br />

ninguém vivo. Amhal estava ofegante, mas sentia-se forte, po<strong>de</strong>roso.<br />

– Tem <strong>de</strong> queimar – disse San, cuspin<strong>do</strong> fel. – Este lugar tem <strong>de</strong> queimar até as fundações.<br />

Saíram <strong>de</strong> lá, tomaram distância. Uma só palavra <strong>de</strong> San, e um globo <strong>de</strong> fogo tomou forma em<br />

suas mãos. Jogou-o na al<strong>de</strong>ia, que começou a queimar como palha seca. Amhal fechou os olhos,<br />

regozijan<strong>do</strong>-se com aquele calor. Nos músculos <strong>do</strong>lori<strong>do</strong>s, no cansaço que pouco a pouco tomava<br />

conta <strong>do</strong> seu corpo, sentia-se finalmente bem, melhor <strong>do</strong> que nunca até então.<br />

O sentimento <strong>de</strong> culpa avolumou-se durante o caminho. Primeiro uma <strong>do</strong>r surda, no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

diafragma um incêndio que estourou em seu peito. De repente ficou sem fôlego e teve <strong>de</strong> apoiarse<br />

numa árvore.<br />

– Tu<strong>do</strong> bem? – perguntou San.<br />

Amhal fitou-o com a expressão perdida. Pendurou-se no seu peito, pois achou que ia ser<br />

traga<strong>do</strong> por um abismo.<br />

– O que foi que fizemos? – sussurrou.<br />

San permaneceu impassível.<br />

– Evocou o Relâmpago Escuro antes <strong>de</strong> eu lhe ensinar qualquer coisa. E arrasamos uma al<strong>de</strong>ia<br />

infecta, para que não levasse o contágio alhures.<br />

– O que fizemos – voltou a murmurar. – Eram pessoas inocentes...<br />

– Inocentes? – San franziu uma sobrancelha. – Devoraram uma ninfa para salvar suas vidas,<br />

atearam fogo à casa <strong>de</strong> um amigo para manter longe a <strong>do</strong>ença. Quase te lincharam. E se os<br />

<strong>de</strong>ixássemos viver, iriam espalhar a peste por to<strong>do</strong> canto, provocan<strong>do</strong> mais mortes.<br />

Amhal não conseguia compreen<strong>de</strong>r. Sentia-se <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>. Não podia aguentar uma coisa <strong>de</strong>ssas,<br />

alguém – um <strong>de</strong>us ou, quem sabe, o acaso – iria certamente ter dó <strong>de</strong>le e matá-lo a qualquer<br />

momento.<br />

– Uma al<strong>de</strong>ia inteira... – repetiu.<br />

San segurou-o pelos ombros.<br />

– Sei como se sentiu, Amhal. Você também se <strong>de</strong>u conta daquela sensação, daquela beatitu<strong>de</strong><br />

que há muito tempo não experimentava. A sensação <strong>de</strong> estar fazen<strong>do</strong> a coisa certa, a coisa pela<br />

qual nasceu.<br />

O rapaz olhou para ele.<br />

– Quem é você?<br />

San sorriu.

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