Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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– Po<strong>de</strong>ria ter avisa<strong>do</strong>...<br />
Foi então que ele entrou. Um jovem, só um pouco mais velho que eles. Parou no limiar da<br />
porta, páli<strong>do</strong>. Vestia uma longa túnica branca, com uma tira <strong>de</strong> teci<strong>do</strong> azul-celeste que <strong>de</strong>scia <strong>do</strong><br />
pescoço até os pés. No peito, o borda<strong>do</strong> <strong>de</strong> um raio estiliza<strong>do</strong> que cruzava uma espada. Trazia, a<br />
tiracolo, uma pesada mochila que, com seu peso, o forçava a uma postura bastante enviesada.<br />
– Sou o sacer<strong>do</strong>te encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> examiná-los – disse com voz trêmula.<br />
Amhal apresentou-se junto com <strong>Adhara</strong> e convi<strong>do</strong>u-o a entrar.<br />
O recém-chega<strong>do</strong> adiantou-se dan<strong>do</strong> passos rápi<strong>do</strong>s e curtinhos, <strong>de</strong>ixou a mochila no chão e<br />
começou a remexê-la com mãos nervosas. A jovem teria gosta<strong>do</strong> <strong>de</strong> perguntar a Amhal quem era<br />
o sujeito, o que vinha a ser, exatamente, um sacer<strong>do</strong>te, e qual era o senti<strong>do</strong> daquele borda<strong>do</strong> que<br />
tinha na túnica. Sentia-se, no entanto, constrangida, não queria mostrar a própria ignorância<br />
diante <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, e portanto preferiu ficar calada. Viu-o sacar da bolsa toda uma série<br />
<strong>de</strong> vidrinhos cheios <strong>de</strong> estranhos líqui<strong>do</strong>s, alguns pequenos galhos fron<strong>do</strong>sos e uma porção <strong>de</strong><br />
tigelas.<br />
– Quem vai ser o primeiro? – perguntou com um olhar perdi<strong>do</strong>.<br />
Amhal se levantou.<br />
– Eu.<br />
Foi um exame bastante <strong>de</strong>mora<strong>do</strong>. O sacer<strong>do</strong>te man<strong>do</strong>u-o tirar a camisa e apalpou longamente<br />
seu ventre. Analisou com cuida<strong>do</strong> a boca, os <strong>de</strong>ntes e os olhos, para então <strong>de</strong>dicar-se a gestos<br />
mais incompreensíveis. Amassou numa das tigelas algumas ervas que trouxera consigo, molhou<br />
nelas um <strong>do</strong>s pequenos galhos após tirar a casca e as folhas, e começou a passá-lo pelo corpo <strong>do</strong><br />
ca<strong>de</strong>te salmodian<strong>do</strong> uma ladainha, <strong>de</strong> olhos fecha<strong>do</strong>s.<br />
<strong>Adhara</strong> observou tu<strong>do</strong>, pasma e curiosa ao mesmo tempo. Era magia? De on<strong>de</strong> vinha aquela<br />
espécie <strong>de</strong> reza hipnótica? Seus olhos fixaram-se no tronco nu <strong>de</strong> Amhal. O <strong>de</strong>senho <strong>do</strong>s<br />
músculos <strong>do</strong>s ombros, a quase invisível maranha <strong>de</strong> cicatrizes nas costas, o ventre firme e<br />
sara<strong>do</strong>. Sentiu-se perturbada sem enten<strong>de</strong>r o motivo, enquanto um estranho fogo se espalhava<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Gostava <strong>de</strong> vê-lo, e aquilo fazia com que se sentisse bem e mal ao mesmo tempo.<br />
– Tu<strong>do</strong> certo – disse afinal o sacer<strong>do</strong>te, e <strong>Adhara</strong> voltou <strong>de</strong> chofre à realida<strong>de</strong>. Cruzou por um<br />
instante o olhar <strong>de</strong> Amhal, mas baixou os olhos quase na mesma hora, enquanto suas orelhas<br />
pareciam estar queiman<strong>do</strong>. – Tu<strong>do</strong> indica que não há nada <strong>de</strong> erra<strong>do</strong> com você. Mas conte-me<br />
exatamente o que aconteceu.<br />
Amhal teve, mais uma vez, <strong>de</strong> falar daquela terrível noite.<br />
O jovem sacer<strong>do</strong>te ouviu tu<strong>do</strong> em silêncio, mas <strong>Adhara</strong> notou que pequenas gotas <strong>de</strong> suor iam<br />
molhan<strong>do</strong> sua testa à medida que a história avançava. Não <strong>de</strong>u qualquer outro sinal <strong>de</strong><br />
preocupação, no entanto. Bateu as mãos nos joelhos, levantou-se e, viran<strong>do</strong> para ela, disse:<br />
– É a sua vez.<br />
Aproximou-se e repetiu os mesmos gestos que já usara com o rapaz. Houve um momento <strong>de</strong><br />
embaraço quan<strong>do</strong> pediu que tirasse a blusa. <strong>Adhara</strong> lançou um olhar preocupa<strong>do</strong> a Amhal, que<br />
ficou to<strong>do</strong> vermelho.<br />
– Só preciso que a levante. Tenho <strong>de</strong> controlar o seu ventre – disse, então, o sacer<strong>do</strong>te, tão sem<br />
jeito quanto ela.