Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ela tentou rebelar-se, mas a outra torceu-lhe o pulso.<br />
– Calminha aí, po<strong>de</strong> ficar tranquila que não vou roubá-la! – Jogou o objeto no balcão. – Aqui<br />
está. Pensou que ia trazer uma freguesa sem dinheiro?<br />
O homem careca sorriu <strong>de</strong> um jeito que a jovem não gostou nem um pouco.<br />
– Uma sopa sain<strong>do</strong> – disse, pegan<strong>do</strong> uma tigela.<br />
– Vou mandar reforçar com um pedaço <strong>de</strong> carne, tu<strong>do</strong> indica que está precisan<strong>do</strong> – continuou<br />
dizen<strong>do</strong> a empregadinha, esquadrinhan<strong>do</strong>-a com olhar crítico.<br />
Ela tentou articular mais algumas palavras:<br />
– Me... me aju<strong>de</strong>m...<br />
– É justamente o que estou fazen<strong>do</strong>, você não acha? – replicou a outra. – Fique saben<strong>do</strong> que,<br />
com esse dinheiro aí, certamente não dá para pagar a carne. – Man<strong>do</strong>u-a sentar à ponta <strong>de</strong> uma<br />
mesa. – Agora vou trazer a sua comida, está bem? E, só para sua informação, o meu nome é Gália<br />
– acrescentou.<br />
A jovem respon<strong>de</strong>u com um tími<strong>do</strong> sorriso. E o <strong>de</strong>la, qual era o seu nome? Suspirou. Deu uma<br />
olhada nas <strong>de</strong>mais pessoas sentadas. Um homem e uma mulher, três garotos usan<strong>do</strong> túnicas, um<br />
sujeito to<strong>do</strong> vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> metal, um baixote com o rosto encoberto por uma espessa barba, <strong>do</strong>is<br />
brutamontes com braços enormes. Finalmente, <strong>do</strong>is caras magros, um <strong>de</strong>les extremamente páli<strong>do</strong>.<br />
Eram diferentes <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, mas ela não saberia dizer por quê. Talvez fossem as proporções <strong>do</strong><br />
corpo ou a atitu<strong>de</strong>. Só sabia que à volta <strong>de</strong>les pairava uma aura <strong>de</strong> ambiguida<strong>de</strong>.<br />
Seus pensamentos foram interrompi<strong>do</strong>s por Gália, que lançou uma tigela diante <strong>de</strong>la.<br />
– Sopa <strong>de</strong> feijão com duas salsichas <strong>de</strong>ntro. – Dobrou-se para cochichar em seus ouvi<strong>do</strong>s: – Eu<br />
mesma botei, às escondidas. Remexa bem com a colher, vai encontrar. – Deu-lhe uns tapinhas nas<br />
costas e <strong>de</strong>sapareceu apressada.<br />
A jovem ficou sozinha com a sua tigela. Ao la<strong>do</strong>, um utensílio compri<strong>do</strong> com uma parte<br />
re<strong>do</strong>nda na ponta.<br />
Colher. Mas conhecer o nome <strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> nada adiantava, pois não se lembrava <strong>de</strong> como usálo.<br />
O cheirinho gostoso que a tigela emanava, no entanto, tinha mexi<strong>do</strong> com seu estômago. Pensou<br />
em enfiar a cara naquele líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> aroma tão convidativo e comer tu<strong>do</strong>, até lamber o fun<strong>do</strong>. Em<br />
seguida olhou para o sujeito senta<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong>. Imergia a colher na sopa diante <strong>de</strong>le, puxava-a<br />
para cima e enfiava-a na boca.<br />
Então é isto.<br />
Segurou a colher com firmeza e procurou imitar os <strong>de</strong>mais comensais. Teve <strong>de</strong> superar algumas<br />
dificulda<strong>de</strong>s, mas acabou enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> como aquilo funcionava. Quan<strong>do</strong> engoliu a primeira<br />
colherada achou que ia <strong>de</strong>smaiar <strong>de</strong> prazer. Depois <strong>de</strong> todas aquelas frutinhas frias, comer<br />
alguma coisa quente era simplesmente fantástico. Sem mencionar a consistência aveludada da<br />
sopa, o sabor da carne... Comeu apressada, procuran<strong>do</strong> os pedaços <strong>de</strong> salsicha, mastigan<strong>do</strong>-os<br />
com vonta<strong>de</strong>. Limpou tu<strong>do</strong>, sorven<strong>do</strong> o que sobrava diretamente da tigela.<br />
O homem senta<strong>do</strong> diante <strong>de</strong>la <strong>de</strong>u uma gargalhada.<br />
– Estava com fome, não é?<br />
Ela limitou-se a anuir.