19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

– É como não existir – repetiu, assim como dissera algumas noites antes a Amhal. – É como<br />

não ser ninguém. E eu preciso saber quem sou.<br />

Mira permaneceu impassível diante <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sabafo.<br />

– Fizemos o possível.<br />

Essa afirmação tão brusca e a verda<strong>de</strong> incontestável que ela continha fizeram com que se<br />

envergonhasse <strong>de</strong> si mesma. Mas sentia que ninguém a entendia <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, que ninguém se dava<br />

realmente conta <strong>do</strong> seu drama.<br />

– Não estou dizen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sistir. Só estou incitan<strong>do</strong>-a a encontrar o seu próprio caminho.<br />

Eu e Amhal temos a nossa vida, e você? Claro, o passa<strong>do</strong> é importante, mas construir para si<br />

mesma uma existência no presente também é fundamental. E é isto que você <strong>de</strong>veria começar a<br />

fazer. Nós temos <strong>de</strong> ir embora, mas você po<strong>de</strong> escolher o que achar melhor: arrumar um trabalho<br />

e continuar a procurar. Está na hora <strong>de</strong> sair <strong>do</strong> limbo em que se encontra. Você não existe porque<br />

ainda não se construiu uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Adhara</strong> baixou os olhos sobre o prato. Como é que alguém po<strong>de</strong> construir para si uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se à sua volta há somente escombros?<br />

Acabaram <strong>de</strong> jantar num clima <strong>de</strong> silêncio hostil.<br />

Amhal não conseguia pegar no sono. Talvez fosse a sensação <strong>de</strong>sagradável da noite anterior,<br />

com aquele sonho perturba<strong>do</strong>r, ou então a agitação pela iminente partida... Mas o ponto central<br />

da sua ansieda<strong>de</strong> era <strong>Adhara</strong>. No dia seguinte iriam <strong>de</strong>spedir-se <strong>de</strong> vez. E <strong>de</strong> alguma forma isso o<br />

incomodava. Haviam partilha<strong>do</strong> coisas importantes durante os dias <strong>de</strong> viagem, e ela era... Não<br />

sabia dizer o que era. Fresca. Pura. E, além <strong>do</strong> mais, precisava da sua ajuda.<br />

Levantou-se, vestiu apressadamente a calça e saiu. Titubeou algum tempo no corre<strong>do</strong>r, mas<br />

<strong>de</strong>pois bateu à porta <strong>de</strong>la.<br />

A jovem abriu quase na mesma hora, <strong>de</strong> olhos avermelha<strong>do</strong>s e cabelo <strong>de</strong>sgrenha<strong>do</strong>. Amhal<br />

experimentou uma avassala<strong>do</strong>ra sensação <strong>de</strong> ternura. Teve vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> abraçá-la, mas achou que<br />

seria meio bobo.<br />

– Posso entrar?<br />

Ela limitou-se a abrir caminho.<br />

– Não é por malda<strong>de</strong> que ele faz isso. Qualquer coisa que diga, sempre tem uma razão <strong>de</strong> ser,<br />

está enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>? E se fala assim, é pelo seu bem. Faz o mesmo comigo também.<br />

<strong>Adhara</strong> torcia as mãos, sentada na cama. Levantou a cabeça.<br />

– Você gosta muito <strong>de</strong>le, não é?<br />

– É como um pai para mim – afirmou Amhal, orgulhoso. A imagem da noite anterior, à beira <strong>do</strong><br />

chafariz, voltou à sua mente com força. – Só quer que você encontre o seu caminho.<br />

Uma sombra <strong>de</strong> raiva passou pelos olhos da jovem, aqueles olhos extraordinários que haviam<br />

assumi<strong>do</strong> mais uma vez sua cor perturba<strong>do</strong>ra.<br />

– E o que acha que <strong>de</strong>veria fazer? Não tenho um tostão e não sei fazer coisa alguma, sinto-me<br />

jogada num mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> e ele me diz “vire-se sozinha”. É justamente o que fiz na<br />

floresta e em Salazar, mas, sozinha, não vou aguentar!<br />

– Então venha conosco. – A frase veio aos seus lábios espontânea e fez com que os <strong>do</strong>is

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!