19.04.2013 Views

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Um forte cheiro <strong>de</strong> incenso pairava no ar. As lentas espirais <strong>de</strong> fumaça envolviam num abraço<br />

sensual as colunas e os bancos <strong>do</strong> templo.<br />

De olhos fixos na estátua à sua frente, o Ministro Oficiante balançou o turíbulo, espalhan<strong>do</strong> em<br />

volta nuvens aromáticas.<br />

A imagem representava um homem <strong>de</strong> cenho severo e corporatura imponente. Segurava uma<br />

espada em uma das mãos e um raio na outra. O seu semblante aparentava uma hierática<br />

austerida<strong>de</strong>, suavizada, no entanto, por algum tipo <strong>de</strong> arcana sabe<strong>do</strong>ria que tornava menos duros<br />

os seus traços.<br />

O Ministro Oficiante entregou o incensório à irmã ao seu la<strong>do</strong> e, em seguida, ajoelhou-se.<br />

Fechou os olhos e repetiu mentalmente aquelas mesmas palavras que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muitos anos subiam<br />

aos seus lábios toda vez que o templo se enchia. Mas, embora as conhecesse tão bem, elas ainda<br />

não haviam se torna<strong>do</strong> uma coisa automática. A fé continuava presente, tão viva quanto no<br />

primeiro dia, talvez até mais. Porque tinha supera<strong>do</strong> a prova da <strong>do</strong>r, fora fortalecida pelos anos<br />

<strong>de</strong> solidão e forjada pelo árduo esforço <strong>de</strong> difundir o novo culto.<br />

Rogou força e paciência, pediu para ser somente um meio, como sempre fazia, e, como sempre,<br />

o seu último pensamento foi para o pai.<br />

Seja lá on<strong>de</strong> você estiver, cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim.<br />

Só com muita dificulda<strong>de</strong> o Ministro Oficiante voltou a ficar <strong>de</strong> pé. Suas pernas já não eram<br />

tão confiáveis quanto antigamente, e levantar-se tornava-se cada dia mais difícil. A irmã<br />

aproximou-se, mas, com um peremptório gesto da mão, a sua ajuda foi recusada. Quan<strong>do</strong> se<br />

sentiu mais firme, virou-se. Abriu os braços para a nave apinhada.<br />

– Já po<strong>de</strong>m vir a mim, um <strong>de</strong> cada vez, como <strong>de</strong> costume, e to<strong>do</strong>s serão cura<strong>do</strong>s.<br />

Um só movimento, lento, percorreu a multidão, agitan<strong>do</strong>-a como a onda <strong>de</strong> um mar<br />

tempestuoso. O Ministro Oficiante <strong>de</strong>sceu <strong>do</strong> altar e misturou-se aos fiéis.<br />

– Foi sem dúvida um ótimo dia – observou a irmã, enquanto ajudava o Ministro Oficiante a<br />

<strong>de</strong>spir os paramentos cerimoniais. – Dava para perceber a fé <strong>do</strong>s crentes, a sua participação...<br />

Ajudar Vossa Senhoria e servi-la é, para mim, uma honra extraordinária.<br />

O Ministro Oficiante sorriu amargamente.<br />

– Às vezes não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar que venham a mim somente pelas minhas capacida<strong>de</strong>s<br />

curativas. Afinal <strong>de</strong> contas, tu<strong>do</strong> não passa <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> chantagem: tenham fé e eu os<br />

curarei.<br />

– Excelência! – exclamou escandalizada a irmã.<br />

O Oficiante fez um apressa<strong>do</strong> gesto displicente com a mão.<br />

– Não ligue para o que digo. Às vezes sinto-me velha e cansada, e o peso <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> aquilo que vi<br />

e vivi <strong>de</strong>ixa-me um tanto <strong>de</strong>siludida.<br />

A irmã plantou-se diante <strong>de</strong>la. Era jovem, jovem até <strong>de</strong>mais. Os cabelos presos num sóbrio<br />

rabo <strong>de</strong> cavalo, as maçãs <strong>do</strong> rosto gorduchas <strong>de</strong> uma moça ainda não saída da a<strong>do</strong>lescência. O<br />

olhar sério criava um estranho contraste com os traços infantis <strong>do</strong> rosto.<br />

– Antes da senhora, o culto tinha si<strong>do</strong> joga<strong>do</strong> na lama pela seita, que conspurcara o nome <strong>de</strong><br />

Thenaar <strong>do</strong>bran<strong>do</strong>-o às suas torpes finalida<strong>de</strong>s. Antes da senhora, as pessoas tremiam ao ouvir o<br />

nome <strong>do</strong> nosso <strong>de</strong>us. Mas veja só, agora: centenas <strong>de</strong> templos por to<strong>do</strong> o Mun<strong>do</strong> Emerso,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!