Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
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Foi uma coisa estranha sentir as mãos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> pelo corpo. Tinha um toque leve,<br />
vagamente trêmulo. <strong>Adhara</strong> não se lembrava <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> apalpada antes, pelo menos <strong>de</strong> forma tão<br />
<strong>de</strong>licada. E aquilo <strong>de</strong>ixava-a confusa. Pois sentia sobre si, nas costas magras e nos imaturos<br />
quadris, o olhar <strong>de</strong> Amhal. Era uma sensação física, quase como se os <strong>de</strong><strong>do</strong>s apoia<strong>do</strong>s na sua<br />
pele não fossem <strong>do</strong> sacer<strong>do</strong>te, mas sim <strong>do</strong> seu companheiro <strong>de</strong> viagem.<br />
A parte que previa o uso <strong>do</strong> galho <strong>de</strong>sfolha<strong>do</strong> foi a mais complexa. <strong>Adhara</strong> teve <strong>de</strong> arregaçar<br />
as mangas para livrar os braços e pren<strong>de</strong>r a blusa com um nó logo abaixo <strong>do</strong> seio, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />
à mostra a maior parte <strong>de</strong> pele possível. Quan<strong>do</strong> a operação acabou, respirou aliviada.<br />
– Tu<strong>do</strong> bem com você também – disse o jovem sacer<strong>do</strong>te. Estava visivelmente alivia<strong>do</strong>.<br />
– Posso pedir-lhe um favor? – perguntou Amhal <strong>de</strong> repente.<br />
– Diga.<br />
– Gostaria que examinasse mais um pouco a minha amiga – apressou-se em explicar. Só umas<br />
poucas palavras concisas para contar da amnésia <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong>.<br />
A jovem sentiu-se <strong>de</strong>smascarada, e quase ficou mais envergonhada que antes, quan<strong>do</strong> fora<br />
forçada a tirar a roupa. Mostrar-se tão fraca diante <strong>de</strong> um estranho era, para ela, uma coisa<br />
humilhante.<br />
– Mexer com a mente <strong>de</strong> quem não lembra é uma coisa complexa, nem mesmo sei se é<br />
possível... – eximiu-se o sacer<strong>do</strong>te.<br />
– No momento po<strong>de</strong>mos nos contentar com algo mais simples – tranquilizou-o Amhal. – Só<br />
para dar uma i<strong>de</strong>ia, esses cabelos, esses olhos não lhe dizem nada?...<br />
O jovem segurou entre as mãos o rosto miú<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong>. Ela teve vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar o contato.<br />
Quan<strong>do</strong> a fitou nos olhos, <strong>de</strong>sviou o olhar.<br />
Ele afastou-se um momento e começou a procurar na mochila. Tirou <strong>de</strong>la um pedaço <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira bastante tosco e enegreci<strong>do</strong>, ao qual ateou fogo com fuzil e pe<strong>de</strong>rneira. Surgiu um vapor<br />
aromático, que provocava um leve entorpecimento. Segurou um braço <strong>de</strong>la e começou a passar o<br />
tição perto da pele. Com surpresa, <strong>Adhara</strong> não percebeu nenhuma sensação <strong>de</strong> calor. A fumaça<br />
que a envolvia, ao contrário, parecia transmitir frescor. Bastaram uns poucos segun<strong>do</strong>s para seu<br />
braço se encher <strong>de</strong> símbolos estranhos, fluorescentes, que apareciam logo que a fumaça lambia<br />
sua pele e <strong>de</strong>sapareciam quan<strong>do</strong> a sensação <strong>de</strong> frescor se esvaía. Amhal levantou-se para olhar.<br />
Ele também estava sinceramente surpreso.<br />
O sacer<strong>do</strong>te franziu a testa.<br />
– O que... – murmurou <strong>Adhara</strong>.<br />
Soltou o braço <strong>de</strong>la e apagou o tição. Respirou fun<strong>do</strong>.<br />
– Então? – perguntou Amhal.<br />
O sacer<strong>do</strong>te indicou as mechas azuis <strong>de</strong> <strong>Adhara</strong> e seus olhos.<br />
– Traços físicos como estes, às vezes, aparecem espontaneamente, ainda mais em quem tem<br />
sangue mestiço, e tu<strong>do</strong> indica que esta jovem é mestiça.<br />
– Há uma parte <strong>de</strong> ninfa nela – afirmou Amhal.<br />
– Percebi. Mas...<br />
<strong>Adhara</strong> sentia o coração pular <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> peito.