Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que os ceifava com um só movimento da espada. A fúria em seus olhos, a frieza com que matara<br />
aquelas pessoas. Escon<strong>de</strong>u a cabeça entre os joelhos. Que fim levara o seu Amhal?<br />
Chegou naquela mesma hora. O rosto tenso, cansa<strong>do</strong>. <strong>Adhara</strong> levantou os olhos e esperou.<br />
Queria que ele <strong>de</strong>sse o primeiro passo, que lhe dissesse alguma coisa, qualquer coisa. Mas ele<br />
limitou-se a sentar-se, <strong>de</strong> olhos fixos nas chamas.<br />
– Está zanga<strong>do</strong>?<br />
Levou alguns momentos antes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r:<br />
– Este não é um lugar para você.<br />
– Qualquer lugar on<strong>de</strong> você esteja é o meu lugar.<br />
Ele fez um gesto irrita<strong>do</strong>.<br />
– Mas que diabo, <strong>Adhara</strong>, não está ven<strong>do</strong> on<strong>de</strong> estou? Será que não reparou na estrada? Nas<br />
pessoas que quase a mataram?<br />
– Claro. E também sei que muito em breve será o mesmo em to<strong>do</strong> o Mun<strong>do</strong> Emerso. Esta coisa<br />
não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tida, vai acabar <strong>de</strong>voran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>.<br />
Amhal voltou a olhar para o fogo. As chamas jogavam na sua face sombras <strong>de</strong>siguais. Seu rosto<br />
estava marca<strong>do</strong>. Só fazia uma semana que ela não o via, mas tinha muda<strong>do</strong>. Naqueles poucos dias<br />
<strong>de</strong> permanência naquele lugar havia aconteci<strong>do</strong> alguma coisa.<br />
– Matou aqueles homens...<br />
– Veio para me dar um sermão? Estavam a ponto <strong>de</strong> linchá-la, o que eu <strong>de</strong>veria fazer? Este não<br />
é um lugar para escrúpulos morais. É on<strong>de</strong> a minha fúria sente-se em casa.<br />
<strong>Adhara</strong> olhou para ele intensamente.<br />
– Você nunca <strong>de</strong>veria ter vin<strong>do</strong> para cá...<br />
– O que está fazen<strong>do</strong> aqui? – replicou ele, fingin<strong>do</strong> uma segurança que não tinha.<br />
– Você sabe.<br />
– O seu não é amor, <strong>Adhara</strong>. Acha que é, mas não é nada disso.<br />
– Talvez não saiba muito da vida, mas...<br />
– Eu a salvei – interrompeu-a ele, implacável – e por isto acha que me ama, porque fui o seu<br />
único ponto <strong>de</strong> referência por muito tempo, por tempo <strong>de</strong>mais. Mas o seu amor não passa <strong>de</strong><br />
gratidão. É uma espécie <strong>de</strong> obsessão.<br />
<strong>Adhara</strong> controlou as lágrimas. Não queria dar-lhe a satisfação <strong>de</strong> vê-la chorar.<br />
– Não é dizen<strong>do</strong> isso que me convencerá a ir embora.<br />
Amhal procurou tirar <strong>do</strong> olhar qualquer sinal <strong>de</strong> fraqueza. Mas <strong>Adhara</strong> ainda conseguia ver,<br />
por trás das pupilas, to<strong>do</strong> o bem que havia nele, a sua parte melhor.<br />
– Este lugar está a consumi-lo – disse. – Mas há um la<strong>do</strong> bom em você, ainda existe o rapaz<br />
com o qual fiz a viagem linda e terrível até Makrat. Há o solda<strong>do</strong> que me salvou naquela noite, o<br />
jovem que tentou <strong>de</strong>sesperadamente <strong>de</strong>volver o meu passa<strong>do</strong>. Há a pessoa que lutava contra a<br />
fúria que tinha por <strong>de</strong>ntro e que a <strong>de</strong>rrotou.<br />
Amhal sorriu amargamente.<br />
– Nunca cheguei a <strong>de</strong>rrotá-la.