Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
Lendas do mundo emerso - O destino de Adhara - Multi Download
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
cheia <strong>de</strong> frutas, vários pedaços <strong>de</strong> queijo, pão ainda quente, que espalhava no ar o seu cheirinho<br />
gostoso, e duas tigelas.<br />
O pajem fez uma obsequiosa mesura e foi embora, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>Adhara</strong> em plena luz <strong>do</strong> dia, no<br />
limite extremo da balaustrada.<br />
– Por favor, aproxime-se – disse o príncipe acenan<strong>do</strong> para ela.<br />
Ela avançou titubean<strong>do</strong>. On<strong>de</strong> estava Amhal? Até mesmo a presença <strong>de</strong> Mira po<strong>de</strong>ria ajudar,<br />
naquele momento. Quan<strong>do</strong> já estava perto <strong>do</strong> príncipe lembrou-se da etiqueta e parou para<br />
ajoelhar-se.<br />
O príncipe a <strong>de</strong>teve:<br />
– Não é preciso. Estamos sozinhos.<br />
<strong>Adhara</strong> voltou a ficar <strong>de</strong> pé, sem saber ao certo o que fazer. O seu olhar <strong>de</strong>morou-se no homem<br />
diante <strong>de</strong>la. Devia ter uns trinta anos, e o rosto era o <strong>de</strong> um jovem. O corpo, no entanto, era<br />
esquelético, larga<strong>do</strong> quase sem força na poltrona. Particularmente as pernas, que mal dava para<br />
entrever sob a longa túnica, eram magérrimas.<br />
O príncipe sorriu.<br />
– Então é verda<strong>de</strong> mesmo que não se lembra <strong>de</strong> nada.<br />
<strong>Adhara</strong> fitou-o <strong>de</strong>snorteada.<br />
Como resposta, ele apontou para uma ca<strong>de</strong>ira.<br />
– Sente-se. Deve estar cansada.<br />
Ela obe<strong>de</strong>ceu. Não sabia se estava se portan<strong>do</strong> direito, se era oportuno, ou pelo menos<br />
permiti<strong>do</strong>, compartilhar uma refeição com o príncipe. Ele pegou um pãozinho e partiu-o com as<br />
mãos pálidas e ossudas. Tinha bonitos <strong>de</strong><strong>do</strong>s, longos e afusa<strong>do</strong>s. Levou à boca um pequeno<br />
pedaço.<br />
– Nos treze anos que estou preso a esta ca<strong>de</strong>ira, você é a primeira pessoa que me olha <strong>de</strong>sse<br />
jeito.<br />
<strong>Adhara</strong> ficou rubra. Tinha da<strong>do</strong> uma mancada, só podia ser isso.<br />
– Mas é uma coisa positiva – apressou-se a acrescentar Neor. – Por via <strong>de</strong> regra, to<strong>do</strong>s evitam<br />
olhar para mim, achan<strong>do</strong> que eu ficaria constrangi<strong>do</strong> se me observassem com <strong>de</strong>masiada<br />
curiosida<strong>de</strong>. De forma que me acostumei a ser invisível; as pessoas, quan<strong>do</strong> já não tem outro<br />
jeito, só olham para o meu rosto, e sempre meio sem graça. Durante as cerimônias, preferem fixar<br />
sua atenção nos trajes da rainha, ou no sorriso da minha filha, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicarem seus olhares ao<br />
meu corpo <strong>do</strong>ente.<br />
<strong>Adhara</strong> baixou os olhos. Diante <strong>de</strong>la havia uma tigela cheia <strong>de</strong> leite quente. O seu perfume,<br />
junto ao <strong>do</strong> pão fresquinho, remexia seu estômago.<br />
– Mas você examina as minhas pernas, pergunta a si mesma qual é o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta ca<strong>de</strong>ira, e<br />
mesmo ontem não teve me<strong>do</strong> <strong>de</strong> voltar a sua atenção para mim.<br />
– Sinto muito por ter si<strong>do</strong> tão inconveniente. Francamente, não era minha intenção...<br />
O príncipe levantou a mão.<br />
– Até que eu gosto. Quer dizer, gosto que me olhem com curiosida<strong>de</strong> e simples interesse, como<br />
se eu fosse uma pessoa qualquer, e não com a pena que se costuma sentir por um aleija<strong>do</strong>. É por