o seu tempo - DSpace CEU

possivel auxilio, fomentando ao mesmo tempo as dissensocs internas
do paiz, conhecendo perfeitamente que, só sendo favorecida por algúns
schismas politicos e pelas continuas dissensocs dos seus habitantes,
poderá enfranquecer o espirito nacional, vencer os preconceitos e anti-
pathia que ha contra ella, e obter o completo dominio do paiz.
Estas pretenscSes da corte de Hespanha sao muito antigás, e pre­
valecerán! fortemente, no gabinete de Madrid, desde que os portugue­
zes sacudiram o jugo dos hespanhoes no memoravel dia 1 de dezem-
bro de 1640. A actividade com que o governo hespanhol promoveu a
volta de D. Miguel a Portugal, sabendo que era apenas um instru­
mento ñas maos do partido Silveira, cuja influencia era exercida para
favorecer os interesses hespanhoes, o zélo com que o mesmo governo
hespanhol o tem constantemente apoiado, e as intrigas do ministro
hespanhol, mr. de Acosta, cuja intervençao em aconselhar e dirigir os
negocios de Portugal foi notoria, mostrarain a importancia que a Hes­
panha liga á final realisaçao do seu fim: a posse de Portugal como
urna provincia.
Até o visconde de Santarem, o agente pago da Junta Apostólica de
Hespanha, pela activa mediaçao do qual se conduziu este negocio,
reconhece a verdade d'esta exposiçSo, e, nao obstante o espirito de
partido de que está animado, nao pode negar que os verdadeiros
interesses de Portugal exigem a mais estreita alliança com a Ingla­
terra, que é a única naç.ao que o pode proteger contra os ambiciosos
projectos das outras naçoes, especialmente da Franca e Hespanha.
Sendo a senha da facçao, que agora governa Portugal, urna cega
dcdicaçao á Hespanha, c o seu interesse o sacrificio da independencia
nacional, segué-se que deve ser do mesmo modo o interesse e a honra
da Inglaterra, oppor todos os obstáculos em seu poder á realisaçao dos
projectos concebidos por ella.
Em todos os seus escriptos, por todos os seus actos e proced¡mentó
esta facçao denuncia-se como anti-commercial, diligenciando persuadir
os portuguezes de que os verdadeiros interesses do seu paiz prescre-
vem urna suspensao de todas as relaçoes commerciaes com as naçoes
estrangeiras, e de que deviam diligenciar sustentarem-se únicamente
pelos seus proprios recursos internos e agrícolas. Com este mesmo fim
procura por todos os meios ao seu alcance fomentar um sentimento de
animosidade contra os inglezes, e represental-os como especialmente
oppostos á felicidade e independencia de Portugal. Esta linguagem é
sustentada nao só pela facçao em geral, mas pelo proprio D. Miguel
em particular, que nao teve escrúpulo em declarar abertamentc que,
logo que estivesse geralmente reconhecido como rei de Portugal,
empregaria todos os meios directos e indirectos, em seu poder, para