o seu tempo - DSpace CEU

obrigar os inglezes actualmente estabelecidos em Portugal a deixarem
o paiz; e tambem que aniquilaría o seu commercio com Portugal.
Declarou-se estimulado a levar a effeito esta determinaçao, nao só
por natural antipathia contra os inglezes, mas pelos compromissos que
o ligam á Hespanha.
Eis aqui pois urna prova de que conviria aos interesses da Ingla­
terra oppor-se a taes projectos; porque tendo a Hespanha fechado os
seus portos, tanto quanto podia, ao commercio britannico, mostrou
tambem em todas as occasioes a maior anciedade em excluir dos
seus mercados os artigos de manufactura e producçao britannica, que
entram para Portugal, para as suas provincias interiores; o que só
pode conseguir tornando-se senhora absoluta de Portugal. Ainda que
D. Miguel nao declarasse abertamente os seús principios anti-commer-
ciaes e por consequencia anti-britannicos, os actos públicos do seu
governo ministram ampias provas d'elles.
Sob o seu governo nem existe segurança pessoal nem segurança
de propriedade. Nao téem fim as exacçoes e extorsoes praticadas por
elle. Nao se respeitam nenhumas leis, quebram-se e infringem-se da
maneira mais escandalosa e notoria os mais solemnes tratados, em des-
prezo tanto das leis das naçoes como dos compromissos particulares;
e sob um tal systema (se esta denominaçSo ó applicavel a um governo
dirigido como o d'elle), nem mesmo pode prosperar a agricultura,
cujos recursos afnrma serem a verdadeira força do reino.
Os acontecimentos dos últimos cinco annos em Portugal sao provas
incontestaveis da verdade do que aqui fica exposto.
As casas commerciaes inglezas que ainda aqui continuam, mais pelo
habito e pela impossibilidade de disporem de antigos estabelecimentos,
formados com urna immensa despeza pecuniaria e á custa de muitos
trabalhos e perseverante industria, do que por qualquer lucro que tirem
do seu commercio nestes tempos calamitosos, estas casas estao con­
vencidas de que nao podem continuar em Portugal se D. Miguel
triumphar, nao só por causa das continuas vexaçoes e perseguiçoes a
que se veriam pessoalmente expostas, mas porque devem olhar para
toda a sorte de obstáculos oppostos ao seu commercio e industria. Se
o governo britannico reconhecesse D. Miguel como rei de Portugal,
nao poderia esperar que elle protegesse e animasse o commercio bri­
tannico por gratidao por tal acto; porque, sabendo que nao foi dictado
por qualquer consideraçao de favor pessoal para com a sua pessoa,
attribuil-o-ha a fraqueza, e julgal-o-ha adoptado por deferencia á Hes­
panha, de quem foi sempre fiel alliado.
Ainda que o obrigassem por qualquer declaraçao solemne a respei-
tar os direitos c privilegios até aqui gosados pelos subditos britannicos