o seu tempo - DSpace CEU

Londres, 8 de agosto de 1832.
Officio de J. L. da Costa ao conde da Louzá
N.° 8. — Ill. m0
e ex. mo
sr. — No dia 2 de agosto, appareceu no periódico Stan
dard, d'esta capital, um artigo, que tenho a honra de enviar copiado a v. ex.*, e
cuja traducçao é a seguinte:
«Nao obstante o boato da derrota de (El-Rei) D. Miguel, e depois que elle se
espalhou, aquelle Principe, segundo nos é assegurado por auctoridade de que nao
podemos duvidar, negociou um emprestimo de 40 milhoes de francos (um milhao
de libras sterlinas, pouco mais ou menos), com urna das primeiras casas de París,
em termos mui vantajosos para o seu Governo. Isto 6 urna suficiente indicaçao
do que pensam as pessoas mais bem informadas em Franca, quanto á probabilidade
de ser bem succedida a expedicáo do ex-Imperador».
A apparicáo d'este artigo surprehendeu-me bastante, como v. ex.* pode imaginar,
quando, a respeito do emprestimo, nada mais sabía que houvesse, senáo o
que tive a honra de communicar até agora a v. ex.*, e sabendo que legítimamente,
segundo as ordens de v. ex.*, nada mais podia haver sera minha intervencáo e
auctoridade. Descobri, porém, depois, que o meu collega tem suas relacoés com
o jornal em questao, e isto me fez conjecturar, até pelas palavras do artigo, que
do mesmo meu collega saíu provavelmente aquella revelaçao.
Eu nao faria esta conjectura se nao tivesse sabido tambem que Jouffroy e elle
meu collega teem dito «que eu nao quero que o emprestimo se faca, que quero ir
contra as Ordens do Governo de El-Rei Nosso Senhor, que nao quero que o mesmo
Governo tenha dinheiro», até accusando-me de traicáo ou desaffeicáo á causa
de El-Rei Nosso Senhor e, finalmente, que visto terem o decreto de S. M. para
fazer o emprestimo por Jouffroy, etc., o háo de fazer, apesar da minha opposicáo,
etc., etc.
A tudo isto só tenho a responder que é verdade o nao querer eu que o emprestimo
se faca de um modo evidentissimo lesivo para o Governo de El-Rei Nosso
Senhor e para o crédito do Reino, e que, emquanto S. M. e v. ex.* me honrarem
com dar-me nesse negocio alguma intervencáo, nao consentiré! da minha parte
em condiçoes táo ruinosas, como as que aquella gente propunha e expuz a v. ex.*,
excepto se positivamente assim me for ordenado.
V. ex.* nao terá, sem duvida, esquecido que eu propuz a Jouffroy e ao meu
collega que se reformassem as condiçoes, que as discutissemos e que assentassemos
num plano em que nao houvesse aquelles defeitos a que eu objectava, e que
o propozessemos entáo, de commum accordo, á approvacáo do Governo. Nínguem
poderá dizer com verdade que isto nao era querer eu que o contrato se fizesse
absolutamente, mas sim nao querer que se fizesse por um modo que em minha
consciencia achava ruinoso para o Estado, pois nunca eu podia suppor que o
Governo me houvesse escolhido para consentir na ruina do mesmo crédito, mas
sim para zelar-lh'o.
Elles, porém, que prometteram de apresentar novas condiçoes e novo plano,
e que até hoje o nao fizeram, é que me parece estarem antes no caso de ser aecusados
de nao querer promover a effectuacáo do contrato, honradamente.
A vista d'isto, certo de ter feito o meu dever, com a simples exposicáo da
minha conducta, tal qual a tenho levado ao conhecimento de v. ex.*, responderei
a quaesquer imputacóes que se me façam e mesmo ás intrigas que se me promoverem,
seguro na justiça do Governo de El-Rei Nosso Senhor e no testemunho
da minha consciencia.