o seu tempo - DSpace CEU

dor. Se eu nao tivesse tanta confiança na sua experiencia na earreira diplomatica,
na sua honra e tacto fino, eu me veria na dura necessidade de estranhar um
tal pedido, feito verbalmente e por escripto, e de lhe recommendar mui positivamente
que se cingisse á lettra das instrucçoes; mas, tendo toda a confiança no
sr. marquez, suspendo o meu juizo a este respeito, até que, esclarecido pelas suas
cartas, possa, com sufficiente conhecimento do que se vae passando, fazer-lhe
constar o que for conveniente.
«Mas a indisposiçao- de D. Pedro para com Palmella tornou-se ainda mais
forte ao receber o seu despacho de 21 de dezembro, em que lhe pedia a demissao
de ministro, mostrando-se nao menos sentido da nota que elle, Palmella, tinha
dirigido a lord Palmerston em 8 do citado mez de dezembro e que d'elle recebera
por copia, coberta pelo seu despacho n.° 6 1
. D. Pedro, escrevendo-lhe sobre este
assumpto, dizia-lhe:
«Pelo que toca ao conteúdo da segunda carta (era a do citado dia 21 de dezembro),
nem seria justo nem razoavel recusar-lhe a demissao, que me pede, do
ministerio, e pela repartiçao competente receberá o sr. marquez a minha decisao
a esse respeito.
«Nenhuma incompetencia podia haver em que, apesar d'aquella demissao, o
sr. marquez continuasse a tratar da importante negociaçao de que o cncarreguei;
mas havendo o sr. marquez dirigido a lord Palmerston, na data de 8 de dezembro
a nota de que envión copia a este governo com o seu despacho n.° 6, na qual se
lé: «Cet acte (la reconnaissance de. la reine) suffira pour faire cesser en Portugal
toute résistance, et sa majesté le duc de Bragança declare, en invocant l'appui de
l'Anglelerre, qu'il est pr'ét a acceder d'avancc, et sans bornes, á toutes les condilions
que la sagesse de sa majesté britannique jugera convenable de lui demander, etc., e
sendo a parte, que o sr. marquez mesmo sublinhou, de urna tal clareza, expressamente
contraria ao espirito e á lettra de todos os artigos das suas instrucçoes, esta
circumstancia, da mais alta transcendencia, faz com que eu nao possa conservarlhe,
como muito desojaría, os plenos poderes que debaixo d'aquellas instrucçoes lhe
confiei, sem attrair sobre mim, e sobre o governo de sua magestade fidelissima,
urna responsabilidade que nos nao pertence, e que mais tarde, no caso de um
mau resultado, obrigaria a justificar-nos perante a naçao e perante o tribunal da
opiniao publica, remedio extremo, que é melhor prevenir do que aproveitar. Sinto
muito que as circumstancias, todas independentes de mim, me determinem a renunciar
por agora á vantagem que a minha confiança, o serviço da minha augusta
filha e o da naçao tinham direito a esperar da cooperaçao do sr. marquez a bem
dos mais poderosos interesses do estado. Consola-me porém a idea de que novamente
nao tardarao em apresentar-se lances, nos quaes o sr. marquez continué a
empregar os seus talentos, a sua experiencia e a sua boa vontade.
«Quanto á licença pedida para vir para o Porto, D. Pedro nada absolutamente
lhe dizia.»
«Desde entao o marquez de Palmella e Mousinho de Albuquerque, dando-se
por offendidos, ou com razao ou sem ella, tiveram de ser demittidos, tanto do ministerio
como da sua commissao diplomática, por decreto de 12 de Janeiro, etc.»
(Soriano, 3.» epocha, tom. iv, pag. 170 a 175.)
1
«Este despacho é mais um outro omittido na publicacáo dos Despachos de
Palmella.»