o seu tempo - DSpace CEU

«Os ministros, feita esta declaracáo, concluiram supplicando ao imperador
(pie lhes permittisse resignar ñas suas máos a qualidade de membros do governo,
desde o momento em que o imperador o houvesse assim por conveniente ao bem
da causa publica; bem persuadidos de que só os nomes e nunca os principios
poderiam dar motivo a tal acontecimento. Que apoiariam constantemente os
esforços e bons desejos da futura administracáo; e que, quando isso nao bastasse,
saíriam do reino até, se a sua presença nelle podesse retardar a marcha de um
negocio, a cuja conclusao favoravel estavam promptos a sacrificar tudo.
«Com esta declaracáo respondeu o imperador a lord Palmerston, dizendo lhe
ter achado nella urna inteira conformidade com os principios emittidos pelos ministros
quando os havia chamado á administracáo, a par do zélo e independencia
com que haviam servido a causa da rainha; que o ministerio, tirado da classe
mais illustrada da emigraçao, offerecia ao mesmo tempo um justo meio termo entre
a pura aristocracia, que por causas bem sabidas nao inspirava ainda á nacáo
bastante confiança, e os espiritos exaltados, dos quaes a mesma nacáo, ha muitos
annos, estava cançada, porque, ou fosse pela sua ambicáo quanto á politica interna,
ou pelos seus disparatados sonhos quanto á politica externa, nao procurava
senáo desorganisal-a e perdel-a; mas que, nao querendo, elle imperador, por modo
algum dar occasiáo, por um lado, a que o feliz éxito do negocio se retardasse, e,
por outro, a que urna súbita mudança de administracáo, se fosse estéril em seus
resultados, servisse sómente de annunciar em suas deliberaçoes urna mudança
de principios, ou pelo menos urna vacillacáo por extremo prejudicial ñas circumstancias
do momento, resolverá fazer chegar ao conhecimento de mylord todo o
exposto, a fim de que o fizesse presente ao seu governo, fazendo-lhe igualmente
conhecer que, se isto nao offerecia suficientes garandas a favor do ministerio,
o imperador estava disposto a nomear outro, composto de individuos que, por
via de mylord, insinuasse o"governo de S. M. B., urna vez que o mesmo governo,
por carta do mylord, fizesse a promessa solemne:
1. a
de armas.
De que seria imposta immediatamente aos dois partidos urna suspensáo
2.° De que a rainha seria reconhecida de facto e direito rainha de Portugal.
3.° De que D. Miguel saíria do reino, nao sendo de modo algum admissivel
o casamento com a rainha.
4.° De que a nacáo portugueza, representada pelo modo que mais conve­
niente parecesse á Inglaterra, Franca e Hespanha, pudesse declarar francamente
por que modo queria ser governada em nome da rainha, e por quem, nao sendo
em caso algum D. Miguel.
«Se fosse dada solemnemente pelo governo de S. M. B. a segurança sobre
estes quatro pontos, o imperador nao só mudaria a administracáo, mas concedería
urna amnistia geral sem excepcáo alguma, e faria todos aquelles sacrificios pes-
soaes que nao fossem contra a sua honra, e que as tres potencias houvessem como
necessarios para conseguir a conclusao feliz d'este importantissimo negocio.
(Carta do imperador a lord Palmerston, em 17 de marco de 1833.)»
(F. P. de Magalháes, Apontamentos para a historia diplomática, pag. 117 a 120.)
Depois d'esta transcripcáo, o documento seguinte, que a completa, dá-nos
idea da situacáo em que ficou o partido liberal, perante o gabinete inglez, depois
das negociaçoes.
Quanto ao regente, é forçoso confessar que a sua perseverança foi admira-
vel. Que ditferença entre D. Pedro, imperador brazileiro, e D. Pedro, soldado por­
tuguez 1