o seu tempo - DSpace CEU

Londres, 14 de novembro de 1832.
Officio de J. L. da Cosía ao conde da Louzá
N.° 16. — Ill. mo
e ex. mo
sr. — Pelo ultimo paquete tive a honra de dizer qual
foi o resultado que deduzi das conversaçoes con> o meu collega e mr. Haber a respeito
do negocio de que estamos incumbidos. Como nao sei precisamente o que o
meu collega escreveu sobre a conferencia que tivemos, lembra-me nao será mau
dizer o que pensó sobre a exigencia de quererem os mesmos individuos, alem da
firma de v. ex. a
, as de todos os Ministros de Sua Magestade, como se praticou no
emprestimo de 1823.
Nao posso disfarçar a minha opiniáo de que aquella exigencia nao foi mais
que um pretexto, e com o fim que disse a v. ex. a
de ganhar tempo, até ver se no
Porto as cousas se decidem. Pensó assim, porque as firmas de todo o Ministerio
nao só davam mais segurança ao negocio, mas nao é cousa de tanta urgencia,
nem que fosse indispensavel para se começar a effectuar o contrato; porquanto,
mesmo no emprestimo de 1823 nosso, e noutros estrangeiros, nao foi pratica o
darem-se os titulos logo á recepcáo da primeira mezada: é por isso que se costuma
dar interinamente um titulo, a que se chama aqui Scrip, que serve de caucáo
provisoria, emquanto se nao entregar as proprias apolices.
Tratando-se numa das nossas conferencias sobre se devia passar-se já a fazer
abrir a chancella de v. ex. 4
, de que se havia de usar nos titulos, eu insistí em
que nao era preciso abril-a com tanta pressa, visto que pedem as de todos os Ministros
para entáo começarem a cumprir o contrato, mas principalmente porque
nao havia necessidade de abrir a dita chancella á parte, podendo e devendo
abrir-se na propria chapa das apolices. D'esta maneira, vem a ficar inteiramente
seguro de que se nao pode fazer outro uso algum da dita chancella senáo este
para que especialmente é destinada; de mais a mais, dependendo a validade das
ditas apolices das assignatnras manuaes, minha e do meu collega.
Acrescentarei a isto, que devendo nos esperar que o Governo de Sua Magestade
alterará o disposto no contrato, quanto a começarem os prestadores a vencer
o juro desde setembro ultimo (pois que assim o venceriam muitos mezes
antes de darem dinheiro algum), é preciso sabermos a determinacáo do nosso
Governo sobre isso, para entáo se assentar no que se ha de escrever ñas apolices,
cuja chapa se tem que abrir, a fim de nao inutilísar urna despeza consideravel,
que se faz nos fabricos necessarios de papel, gravura, etc., como succederia se
alguma cousa tivesse que emendar-se depois.
Dei conta fiel do que temos passado, para mostrar a v. ex. a
que nao tenho
deixado de cuidar no negocio, em quanto a mim toca, punindo pela segurança e
interesses da Fazenda Real; entretanto, sinto ter que noticiar a v. ex.* que, em
consequencia da prisáo de Sua Alteza Real a Duqueza de Berry, e de papéis que
se lhe apprehenderam, onde o contratador do emprestimo, mr. Jauge, se achou
compromettido, elle foi preso em París e mettido em segredo rigoroso, como annunciam
todas as gazetas d'aqui e de París. Esta circumstancia, alem de outras
difficuldades que eu temo, independentes d'ella, a cumprirem os prestadores e a
realisarem as obrigaçoes que contrahiram para comnosco, talvez que embarace
de maneira o negocio, que possamos fazer bem pouco ou nada, com todas as nossas
diligencias, para preencher os fins que o Governo de El-Rei Nosso Senhor
de seja.