o seu tempo - DSpace CEU

hoje fantásticos Ministros d'Estado fizeráo acarretar as imagens de
María Santissima e dos Santos á vista de toda a povoacáo de Lisboa,
agora porém se chegassem a considerar-se mais seguros por certo que
se declarariao, o que realmente sao isto hé huns rematados e furio­
sos Iconoclastas, e quanto maior fosse a devoçao que os portuguezes
tivessem a certas Imagens tanto mais vivo seria o empenho, com que
tratariáo pelo menos de as esconderem e sumirem, ou para fallar
mais claro de as desfigurarem, e cortarem a golpes de machado, como
se cortassem arvores no meio de hum bosque l
.
Nunca, nunca em táo breve tempo se commetteráo attentados táo
graves, e táo desusados neste Reino como esses que se tem praticado
em a Nova Sodoma contra a Santa Igreja, e contra o seu Divino
Instituidor.
Pretendem os scismaticos rasgar a preciosa e inconsútil vestidura
do Redemptor, ferem os Hereges o proprio Coracáo da Espoza de
Christo. . . ambos esses monstros porém até 1820 eráo quasi absolu­
tamente desconhecidos em Portugal, que tinha corrido o longo espaço
de seis centos annos de Monarquía e tambem de gloria, sem que tivesse
dado jamáis entrada a esses Monstros, por mais anulosamente que elles
se quizessem capear com a utilidade publica e grandes interesses do
Estado e o que parecia intolerancia absurda aos inimigos de Déos era
huma especie de mysteríosa chave que abria as portas do Oriente, e
fazia tremer os maiores potentados da Asia, só de ouvirem o nome
do proprio Rei, que expulsara os Judeos e quizera perder antes
milheiros, e milheiros de vassallos uteis, que arriscar o mais intimo
dos portuguezes a huma infeccáo, que pervertendo-lhe a genuina
crença o despenhasse nos Infernos. ..
Ah! meus amados Filhos, ainda vira hum dia em que nos desen­
gañemos pelos nossos proprios olhos, de que o Rei Protector dos Je­
suítas e Fundador do Tribunal da Santa Inquisicáo nestes Reinos foi
mais hum Anjo que hum Soberano.. . Ainda chegará hum dia em que
ao ver-mos esses milhoens de almas ou por elle ou por seu influxo, met-
tidas no Céo, conheceremos perfeitamente o que devéráo os nossos
maiores, e o que nos devemos ao chamado fanatismo desse eterna­
mente memoravel, e Saudoso Principe. . .
Nao estranheis que dispertemos lembranças que só parcceráo escu-
sadas a quem nao saiba 1er em o nosso coracáo, o que nelle se passa,
e a negra tempestado que nelle se levanta ao considerarmos o que sao
actualmente huns certos Portuguezes. . ah nao lhes chamemos Portu-
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Salmo 73, v. 6."