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Sandra Regina Dias de Costa - Programa de Pós-Graduação em ...

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103<br />

O discurso <strong>de</strong>ssas mães 20 revela o modo com que elas perceb<strong>em</strong> seus filhos. E,<br />

<strong>em</strong>bora possa se notar muitas s<strong>em</strong>elhanças nessas falas, percebe-se nelas a presença<br />

<strong>de</strong> muitos opostos entre si (calma/nervosa; agressivo/carinhoso; agitado/tranqüilo)<br />

termos que necessariamente não revelam uma contradição, mas sim uma ambigüida<strong>de</strong>.<br />

Schaefer e Janttsch ( 1995, p.33), apontam o ambíguo como “uma situação<br />

resultante <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos confusa e insuficient<strong>em</strong>ente consi<strong>de</strong>rados e compreendidos<br />

pelos indivíduos populares”, isto é, para estes autores, na mente do indivíduo popular a<br />

ambigüida<strong>de</strong> se apresenta na forma da sist<strong>em</strong>atização confusa <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />

conceituais através <strong>de</strong> termos aparent<strong>em</strong>ente contraditórios. Assim, ambigüida<strong>de</strong> não é<br />

contradição, já que o pressuposto para a contradição é a formação <strong>de</strong> um par<br />

necessário, isto é, aquele cuja relação se estabelece na medida que ao se negar<strong>em</strong> se<br />

necessitam e promov<strong>em</strong> uma solução <strong>de</strong> superação, uma transformação.<br />

Na realida<strong>de</strong>, a ambigüida<strong>de</strong> aparece como raiz da contradição real, presente na<br />

socieda<strong>de</strong>, entre b<strong>em</strong> e mal; na medida <strong>em</strong> que, como mães, esperam filhos bons e ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>param-se com características nos seus filhos que são classificadas<br />

socialmente como más, elas não consegu<strong>em</strong> enten<strong>de</strong>r como um indivíduo carinhoso,<br />

bondoso, amigo, po<strong>de</strong> ser ao mesmo t<strong>em</strong>po agressivo, grosso, <strong>de</strong>srespeitoso, s<strong>em</strong><br />

perceber que b<strong>em</strong>/mal estão presentes no ser humano <strong>em</strong> interação permanente. Um<br />

não existiria s<strong>em</strong> o outro, e da luta entre eles é que surge aquilo que cada um dos filhos<br />

<strong>de</strong>las é, daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reforçar verbalmente as qualida<strong>de</strong>s que, pela história <strong>de</strong><br />

vida da família e da criança, poucas pessoas vê<strong>em</strong> e perceb<strong>em</strong>.<br />

Outra questão que se evi<strong>de</strong>ncia é a falta <strong>de</strong> consciência das mães <strong>em</strong> enten<strong>de</strong>r o<br />

comportamento como processo dialético entre o biológico e o meio social. Conforme<br />

Vigotski esclarece :<br />

O comportamento é um processo dialético e complexo <strong>de</strong> luta entre o mundo e o hom<strong>em</strong> e tanto<br />

no interior do hom<strong>em</strong> quanto no <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong>ssa luta as forças do próprio organismo e as<br />

condições <strong>de</strong> sua constituição herdada <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham papel não inferior ao da influência agressiva<br />

do meio. (VIGOTSKI, 2001, p.71)<br />

Pela participação nas reuniões pô<strong>de</strong>-se perceber que os pais/familiares passam<br />

por algumas fases quando tomam conhecimento que o filho é portador <strong>de</strong> um distúrbio<br />

20 Utiliza-se o termo mães apesar <strong>de</strong> outros graus <strong>de</strong> consangüinida<strong>de</strong> envolvidos, porque na verda<strong>de</strong> avó e bisavó<br />

exerc<strong>em</strong>, ainda que <strong>de</strong> forma parcial, o papel <strong>de</strong> mãe para essas crianças.

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