Projetos e práticas de formação de professores - Relatos - Unesp
Projetos e práticas de formação de professores - Relatos - Unesp
Projetos e práticas de formação de professores - Relatos - Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Projetos</strong> e <strong>práticas</strong> <strong>de</strong> <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong> - <strong>Relatos</strong><br />
102<br />
A partir <strong>de</strong> Gramsci, estabeleceu-se o objetivo do trabalho: o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> resgatar<br />
esse grupo social como sujeito <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> estudos, a partir <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s pedagógicas<br />
<strong>de</strong>finidas a partir <strong>de</strong> seu interesse principal, o HIP-HOP.<br />
Não há ativida<strong>de</strong> humana da qual se possa excluir toda a intervenção<br />
intelectual, não se po<strong>de</strong> separar o homo faber do homo sapiens. Em<br />
suma, todo homem, fora <strong>de</strong> sua profissão, <strong>de</strong>senvolve uma ativida<strong>de</strong><br />
intelectual qualquer, ou seja, é um “filósofo”, um artista, um homem <strong>de</strong><br />
gosto, participa <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> mundo, possui uma linha<br />
consciente <strong>de</strong> conduta moral, contribui assim para manter ou para<br />
modificar uma concepção do mundo, isto é, para suscitar novas<br />
maneiras <strong>de</strong> pensar (...). (GRAMSCI, 2004, p. 52-53)<br />
Aqui está a questão central, ou seja, ver em cada aluno um intelectual com<br />
experiências, concepções, que vai à escola em busca <strong>de</strong> algo além do que traz. O <strong>de</strong>safio está<br />
em a escola ser capaz <strong>de</strong> elaborar ativida<strong>de</strong>s que consi<strong>de</strong>rem essas questões e dar novos sentidos<br />
e significados à prática social <strong>de</strong>sses alunos.<br />
A negociação com a escola para a realização do trabalho passou pela apresentação<br />
da proposta das ativida<strong>de</strong>s, organizadas a partir da temática HIP-HOP, em reuniões do HTPC.<br />
Após amplo <strong>de</strong>bate — que alguns momentos se aproximaram <strong>de</strong> uma sabatina, não propriamente<br />
dos conteúdos, mas referente ao como trabalhar com os alunos indisciplinados —, ficou <strong>de</strong>finido<br />
que o espaço seria na escola, aos sábados. De início, já se apresentaram as primeiras dificulda<strong>de</strong>s,<br />
uma vez que aos finais <strong>de</strong> semana acontecia o projeto “Escola da Família” 2 , sob a responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> um coor<strong>de</strong>nador externo à escola, que tentava, a todo custo, enquadrar a ativida<strong>de</strong> HIP-HOP<br />
nos mol<strong>de</strong>s do referido projeto. Apesar disso, os encontros foram acontecendo com um grupo<br />
composto <strong>de</strong> 16 jovens, sendo que alguns <strong>de</strong> outras escolas da região.<br />
A partir da temática “Sociologia no Ensino Médio” e da particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mandada<br />
pela escola, a proposta foi estruturada, tendo como eixo central o “pensar sociologicamente”, que<br />
se coloca como um apren<strong>de</strong>r a pensar, um “pensar criticamente”, isto é, em essência, “pensar<br />
historicamente”. Saber a história do que se vê e daquilo que se participa, é tomar consciência e<br />
dar sentido ao que fazemos e por que fazemos parte. Esta foi uma finalida<strong>de</strong> do projeto ensinar/<br />
apren<strong>de</strong>r a pensar criticamente, a outra, implicação e <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong>sta, consistiu na revalorização<br />
do espaço da escola, em específico da sala <strong>de</strong> aula. Mas como fazer isto?<br />
É notória, a energia, a disposição para a ação dos adolescentes, ao mesmo tempo<br />
em que é mínima a disposição para o aprendizado do “conteúdo sistemático dado em sala <strong>de</strong><br />
aula”. Para dar um sentido mais a<strong>de</strong>quado à escola aos filhos dos trabalhadores, é preciso, também,<br />
construí-lo fora <strong>de</strong>la, em ativida<strong>de</strong>s que no espaço-tempo não estejam diretamente ligadas à escola,<br />
mas que, ao mesmo tempo, se articule conteúdos curriculares e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses jovens<br />
alunos. Entretanto, para tal, é essencial partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas reais locais, para só <strong>de</strong>pois disso<br />
po<strong>de</strong>r agir com maior objetivida<strong>de</strong>. Desse modo, entre muitas <strong>de</strong>mandas apreendidas juntos aos<br />
jovens da escola, sobressaiu o movimento HIP-HOP.<br />
IX CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2007<br />
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - PRO-REITORIA DE GRADUAÇÃO