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Projetos e práticas de formação de professores - Relatos - Unesp

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<strong>Projetos</strong> e <strong>práticas</strong> <strong>de</strong> <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>professores</strong> - <strong>Relatos</strong><br />

<strong>de</strong>les pois os familiares a “abandonaram” no hospital, pela falta <strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong>sta mulher diante<br />

<strong>de</strong> tantas dificulda<strong>de</strong>s e ainda se <strong>de</strong>svalorizava quase todo o tempo, falava que é “burra” (sic), que<br />

não estudou por falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>. No entanto, ela sempre estava disposta em participar das<br />

ativida<strong>de</strong>s que propúnhamos para ela. Demonstrava alegria quando chegávamos ao hospital e<br />

certa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa presença. Era afetiva e <strong>de</strong> fácil interação.<br />

Uma semana pós-cirurgia, L.F. ainda era distante, não interagia diretamente com<br />

as alunas, parecia ter medo <strong>de</strong>las: ficava observando, com medo talvez <strong>de</strong> alguma intervenção<br />

médica, como justificava a própria mãe. Era uma criança <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>la, sempre a solicitava.<br />

No início <strong>de</strong> nossos trabalhos a mãe <strong>de</strong>monstrava carinho e atenção. No entanto, com passar <strong>de</strong><br />

três meses <strong>de</strong> internação, esta se tornou irritadiça, chorosa, com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> separar-se das<br />

alunas nos términos dos encontros. Solicitava realizar <strong>de</strong>senhos, conversar com as alunas.<br />

Expressava ciúmes do relacionamento <strong>de</strong>stas com outras mães acompanhantes, era impaciente,<br />

agressiva com o filho quando este <strong>de</strong>monstrava suas limitações. Queixava-se da ausência das<br />

alunas e da própria supervisora do projeto que duas vezes apenas esteve no local. A mãe <strong>de</strong> L.F.<br />

queria vincular-se e sofria fortes ansieda<strong>de</strong>s quando as alunas não estavam por perto. Quando<br />

L.F. estava para receber alta a mãe tinha certa preocupação em relação a nós. Pedia sempre para<br />

que, quando eles estivessem em casa era para nós irmos visitá-los e insistia: “Só quero ver se<br />

vocês vão me visitar na minha casa”.<br />

Quando ouvia histórias L.F. não <strong>de</strong>monstrava reação e no colo da mãe permanecia.<br />

Respondia com monossílabos apenas o que a mãe lhe perguntava. Progressivamente, com a<br />

ajuda da mãe e da percepção da criança <strong>de</strong> que a própria mãe interagia com as alunas, L.F.<br />

começou a esboçar um mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo pelas ativida<strong>de</strong>s oferecidas. O <strong>de</strong>safio para as alunas<br />

era estabelecer a confiança para enfim, conseguirem trabalhar aspectos pedagógicos necessários<br />

ao seu <strong>de</strong>senvolvimento. O impasse emocional não oferecia condições necessárias para a<br />

aprendizagem. A partir <strong>de</strong>ste momento, L.F. conseguiu brincar, mas outro obstáculo se colocava:<br />

não aceitava dividir tarefas com os amigos, brinquedos e fazia birra, parecia não ter limites. L.F.<br />

não reconhecia cores. À medida que contavam histórias e pediam para que <strong>de</strong>pois ele <strong>de</strong>senhasse<br />

e pintasse, eram nomeadas as cores no <strong>de</strong>senho. A mãe, ao perceber as dificulda<strong>de</strong>s do filho,<br />

mantinha um comportamento ina<strong>de</strong>quado e em momentos <strong>de</strong> conflito, provavelmente sentia-se<br />

culpada e penalizada pela situação, e agradava o filho. Com as alunas era sempre atenciosa,<br />

comunicativa e carinhosa, mas percebíamos suas oscilações <strong>de</strong> humor. As tarefas <strong>de</strong> estímulo<br />

eram sempre planejadas pelas alunas e o investimento para amenizar as <strong>de</strong>fasagens <strong>de</strong>sta criança<br />

era intenso. No último mês <strong>de</strong> permanência no hospital, a criança reconhecia algumas cores,<br />

melhorou a comunicação - pedia para <strong>de</strong>senhar, estava carinhoso e falante. Fato também marcante<br />

foi a criação <strong>de</strong> “grupos <strong>de</strong> estudo”, pois durante os acolhimentos, as mães (em sua maioria)<br />

pediam para que as alunas sanasse dúvidas sobre aspectos da infância, nas quais tinham maiores<br />

dificulda<strong>de</strong>s no trato diário com seu filho (a). Assim, em vários momentos as alunas conversaram<br />

com as mães sobre sexualida<strong>de</strong> infantil, distúrbio <strong>de</strong> atenção e hiperativida<strong>de</strong>, dislexia, entre outros.<br />

Os fatores que envolvem a situação são além dos apresentados e limitados pelo ambiente<br />

IX CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2007<br />

UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - PRO-REITORIA DE GRADUAÇÃO<br />

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