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Estela

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te vestido com uma simples japona de lã, continuando tranqüilamente<br />

uma observação.<br />

– Peço-lhes que me desculpem, disse, estarei convosco dentro<br />

em pouco; estou terminando uma observação.<br />

E continuou a espiar o espaço qual se estivesse sozinho.<br />

– Meu caro mestre, disse o Conde de Noirmoutiers, não se<br />

incomode conosco. Compreendemos o seu trabalho e o respeitamos.<br />

Nós outros somos uns inúteis que passamos a existência<br />

sem algo produzir. Se só houvesse gente da nossa espécie, a<br />

Humanidade ainda seria do gênero troglodita ou símio, e não<br />

saberíamos nada de coisa alguma.<br />

Dargilan, a quem o ruído das palavras aborrecia, renunciou<br />

continuar e desceu da sua banqueta giratória.<br />

– Meu caro doutor, disse, estendendo a mão ao médico, agradeço-lhe<br />

por haver trazido os seus amigos, e sentir-me-ei feliz<br />

mostrando-lhes alguma coisa. Porém, acrescentou um pouco<br />

secamente, sabes, tanto quanto eu, que as pessoas do mundo<br />

nada podem ver em nossos instrumentos.<br />

Disse isso com simplicidade, sem menosprezo; porém <strong>Estela</strong><br />

se sentiu melindrada. Estava linda; vestira uma de suas toaletes<br />

mais elegantes, e ele nem sequer a olhara. “É possível seja este<br />

homem, dizia-se a si mesma, quem escreveu tão lindas páginas e<br />

me transportou ao céu?” Esse aspecto extravagante correspondia<br />

exatamente à descrição que ouvira fazer: vestes grosseiras, andar<br />

pesado e desajeitado, cabeleira e barba hirsutas, tez de cor embaciada.<br />

No momento de transpor a porta do jardim do observatório,<br />

ao pensar que ia encontrar-se frente a frente com o seu autor<br />

predileto, seu coração palpitava com força. No entanto, via um<br />

homem de aspecto comum e, além do mais, desagradável. Foi a<br />

primeira a falar-lhe e sem perturbação.<br />

– Senhor, disse-lhe, viemos estorvar suas observações. Cabeme<br />

a culpa. Fui eu quem desejou ver o seu observatório. Perdoe<br />

e permita que nos retiremos.<br />

Enquanto <strong>Estela</strong> falava, ele, fixa e tranqüilamente, dirigira<br />

seu olhar aos olhos dela. Esse olhar, de um brilho assaz estranho,<br />

a impressionou tanto que não o pôde sustentar, e foi com grande

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