19.04.2013 Views

Estela

Estela

Estela

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

– Há três meses que estou aqui, e parece-me que vim ontem.<br />

– É a duração normal de uma estada nos Pirineus, replicou<br />

Dargilan, que não compreendeu, ou não quis compreender. Não<br />

ficaria aqui um ano, vós, a beleza parisiense por excelência.<br />

– Eu, aqui, ficaria... sempre, pronunciou ela tranqüilamente.<br />

Dominado por opiniões diametralmente opostas, Dargilan não<br />

compreendeu o amor oculto sob as palavras da jovem, que eram,<br />

contudo, os mais doces que ele ouvira. Manteve-se na mesma<br />

posição, silencioso, diante dela, qual se, por sua vez, ela o houvesse<br />

hipnotizado.<br />

– Senhorita <strong>Estela</strong>, replicou, sois ainda uma criança. Vós, aqui,<br />

seríeis o meu verdadeiro céu, o meu arrebatamento perpétuo,<br />

minha única felicidade possível. Mas, isso constitui a vossa<br />

desventura. Fostes educadas no mundo e para o mundo. Paris vos<br />

é tão indispensável quanto o ar que respirais. Ah! Não existe<br />

nada perfeito neste mundo. A atração sois vós! O céu sois vós!<br />

Minha estrela, far-me-íeis esquecer a Astronomia e todas as<br />

ciências.<br />

– Que estais dizendo? Replicou ela vivamente. A Astronomia<br />

não é a vossa vida?<br />

– Não mais, agora.<br />

Nesse momento, o senhor e a senhora de Noirmoutiers chegaram<br />

por sua vez à biblioteca.<br />

– Meu tio, disse <strong>Estela</strong>, o Sr. Dargilan está aqui, mostrandome<br />

alguns livros; não se afastem.<br />

– Como está vermelha, minha sobrinha! Por que corres sempre,<br />

assim, a tanta pressa? Vais apanhar palpitações.<br />

<strong>Estela</strong>, para dominar-se, começou a folhear um livrinho do<br />

século XVII que se encontrava em uma estante da biblioteca, ao<br />

alcance da mão. Na primeira página, aberta ao acaso, lera estas<br />

duas palavras “Sede de Amor”, encimando uma gravura que<br />

mostrava dois cupidos tirando água de um mesmo poço, e trazendo<br />

por epígrafe estas outras do Evangelho: “Non sitiet in<br />

eternum”. Prometeu a si mesma continuar, algum dia, a leitura<br />

desse livrinho, e, destacando uma linda margarida dentre as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!