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traçar esses croquis, corporificando nesses alinhamentos representações<br />
de seres reais ou fictícios, a imaginação de nossos<br />
antepassados povoou esses espaços silenciosos de uma vida<br />
extraterrestre, mais ou menos bizarra e fantástica.<br />
Viviam muito mais e muito melhor do que nós outros, com a<br />
Natureza. A solidão das noites, o vento, a tempestade, o raio, a<br />
fecundidade da flor ou da mulher, os devaneios do sono, o<br />
murmúrio do riacho, os frêmitos da folhagem, os mananciais<br />
sombreados, as quietas fontes – tudo para eles se povoava de<br />
uma espécie de vida aérea, fugitiva e imperceptível, e até nas<br />
profundidades celestes encontraram, inventaram, pressentiram<br />
formas mais ou menos extraordinárias. Sim, se observas com<br />
atenção, se segues esses alinhamentos, se julgas que neles nada<br />
há, que as constelações na realidade não existem, e se pensas que<br />
os nossos avós quiseram desenhar no céu figuras quaisquer, para<br />
serem assim identificadas, tu encontrarás este esboço do corpo<br />
de Hércules ou do Ajoelhado, qual o denominavam os Gregos,<br />
da mesma forma que ao lado, na tua querida Lira, adivinharás<br />
um instrumento de música, alongado, do qual Vega indica o<br />
braço, o cimo, uma lira, cítara ou harpa, da mesma forma que<br />
naquelas estrelas da Coroa, ali, ao outro lado de Hércules, vês<br />
uma coroa formada com grande exatidão, e mais distante adivinhas<br />
um delfim, e um pássaro sustentado por duas asas abertas.<br />
Essas denominações, paralelos e criações mitológicas são graciosas<br />
e poéticas. Os modernos quiseram completá-las, improvisando<br />
figuras nos intervalos não ocupados pelos antigos, mas foram<br />
pouco felizes, pesadões, tediosos com as suas invenções canhestras:<br />
o atelier do escultor, o fornilho do químico, o cavalete do<br />
pintor, o relógio, a máquina pneumática, o sextante, o otante e<br />
também a raposa, o ganso e o gato. Tudo isso é artificial e parece<br />
ligado por ficções. Quanto era bem mais viva a mitologia pagã,<br />
com os seus doze signos do zodíaco, avançando gravemente ao<br />
longo da esfera, com a Virgem conduzindo a Arista, Andrômeda<br />
encadeada, Cassíope no seu trono, ou o cavalo Pégaso lançado<br />
no espaço, e o jovem Perseu sustentando na mão a sangrenta<br />
cabeça de Medusa! Mas, não esqueçamos o nosso montão de<br />
estrelas de Messier. Vem admirar ao telescópio.