19.04.2013 Views

Estela

Estela

Estela

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

assemelhar-se-nos? Têm eles os nossos sentidos? Pensam iguais<br />

a nós outros? Quando divago sobre essa vida universal, formidável,<br />

fico emocionada. Quanto seria interessante uma comunicação<br />

com Marte, tão próximo daqui! Por que não se chega a isso?<br />

<strong>Estela</strong> falava com o fervor de outros tempos, quando fazia suas<br />

preces; sentia-se em comunicação com a Natureza, contemplava<br />

as estrelas com amor, e parecia-lhe poder abrir asas e voar<br />

até elas. Sua alma vibrava na luz celeste, cujos raios atravessavam<br />

a imensidade, e acreditava sofrer também a atração universal.<br />

Seus olhos encantados iam de Vega às Plêiades, de Altair à<br />

Capela, detendo-se sobre as mais brilhantes estrelas, pousando<br />

sobre as constelações, arrebatando o pensamento no abismo<br />

sideral, e sentia-se tão longe de tudo, que esquecia até o afeto<br />

mais caro, o seu mestre adorado, seu deus terrestre. Depois, ficou<br />

silenciosa, meio hipnotizada pelo céu. E calou-se, com os olhos<br />

fitos na estrela predileta.<br />

De repente, sem sair do enlevo, repetiu com voz grave, falando<br />

a si própria:<br />

– Estamos no céu! Que se procura? Ali está, a realidade! A<br />

realidade sublime! Ó minhas estrelas queridas! Eu vos vejo, eu<br />

vos amo, eu sinto que vos pertenço. Por que procurar à margem<br />

da verdade? Por que inventar sistemas? Sou pequena, minúscula,<br />

invisível, ignorada; mas também existo, penso e amo. Minha<br />

alma brilha; é uma outra luz; vê-se a atração?<br />

Ali está a vida, a vida universal, eterna. Que se procura? Ali<br />

estão as moradas da imortalidade. É um arquipélago de ilhas<br />

celestes. Já habitamos esse arquipélago. Não estamos à margem<br />

do céu, nem fora, nem abaixo; estamos em pleno céu. Se vivermos<br />

depois da morte, é lá que viveremos; não se deve inventar<br />

fábulas e contos. Se não vivemos, se os habitantes de todos os<br />

mundos nascem neles para neles morrer, a vida não tem finalidade<br />

e o Universo para nada serve. É uma lanterna mágica, tola e<br />

burlesca. Vega, minha Vega! E vós todas, estrelas cintilantes,<br />

sóis do infinito, sois os fachos da Eternidade!<br />

Estamos aqui, continuou, poderíamos estar lá, no Cisne, na<br />

Águia, na Lira; nosso Sol poderia ser uma dessas estrelas; é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!