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objeto, o seu complemento e parecia pertencer-lhe. Oh! quanto<br />
queria aquela adorável criatura, quanto desejaria respirá-la de um<br />
hausto e absorvê-la em uma aspiração frenética, prendê-la em<br />
seus braços, envolvê-la em imensa carícia e aniquilá-la em si<br />
próprio, dois seres formando um só, que os associa e os confunde,<br />
duas chamas em uma, ardente, inextinguível. Céu de aurora,<br />
de luz e de eterna primavera, mas de repente atravessado por<br />
uma espessa nuvem tempestuosa: o amor, o amor absoluto, sem<br />
esperança de felicidade! Aquela parisiense elegante e delicada<br />
aquela mundana de luxo refinado, aquela mulher de “boudoir”,<br />
não fora feita, dizia-se consigo Dargilan, para a vida simples,<br />
séria, severa do sábio, para a simplicidade, a pobreza, o trabalho.<br />
Um capricho de instante a interessara pela Ciência, mas tal não<br />
poderia passar de uma extravagância, e seria enganá-la fazer-lhe<br />
acreditar que pudesse ser durável. Torná-la companheira de um<br />
pesquisador solitário seria enterrá-la viva. E depois, que ambição!<br />
Algum dia, ela o amaria? Já não estava noiva? Não. É<br />
impossível. É bela, é adorável, é divina. É preciso esquecê-la!<br />
Por que tê-la conhecido! Por que tê-la visto! Fatalidade! A vida é<br />
absurda.<br />
E assim, durante uma longa semana, se agitou, dia e noite essa<br />
alma, presa da paixão mais desordenada e incapaz de se<br />
desprender do torniquete de ouro que a aprisionava. Despertando,<br />
durante as noites de insônia, era a imagem de <strong>Estela</strong> que lhe<br />
aparecia; sucumbido de fadiga em sono de alguns momentos, era<br />
o mesmo pensamento que o embalava; debruçando-se durante a<br />
noite profunda à varanda do terraço, era a forma diáfana de<br />
<strong>Estela</strong> que ele via desenhar-se, voluptuosamente desdobrada, nos<br />
flocos da Via-Láctea, e durante o dia, abrindo um livro, não lhe<br />
era possível ler meia página sem sentir repentinamente um<br />
grande vácuo em todo o seu ser, e a respiração interrompida qual<br />
se o ar lhe faltasse.<br />
Ainda não atingira a idade em que, na mulher amada, o amante,<br />
muitas vezes, ama o próprio eu. Estudara, analisara até,<br />
notadamente no começo, a encantadora desconhecida. Três<br />
coisas, em sua opinião, lançavam entre as duas existências um<br />
abismo intransponível. A primeira era a grande fortuna de <strong>Estela</strong>.