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Estela

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– Está bem. Admito. Há em tudo isso um sentimento aceitável:<br />

é uma forma de altivez igual à outra qualquer, afinal. Mas,<br />

se estais convencido de que a fortuna pode prejudicar a tranqüila<br />

felicidade de um ser puramente intelectual, podeis desposar a<br />

senhorita <strong>Estela</strong>, sem dote. Nada é mais simples do que recusar<br />

um dote.<br />

– Recusar o dote? E ela? Não se trata unicamente de mim.<br />

Não quero riqueza; é o meu ponto de vista. Porém, com que<br />

direito eu a privaria do que lhe pertence? Com que direito lhe<br />

suprimiria o bem-estar da sua vida costumeira? Isso sim, seria<br />

um belo egoísmo! Seria precipitá-la no desconhecido, preparar a<br />

sua desgraça! E, depois, sua educação; seus hábitos de elegância,<br />

as suas necessidades de luxo, as suas idéias, os seus preconceitos,<br />

que sei eu?<br />

Nunca pensei em casar. A história da Ciência nos oferece exemplos<br />

que se podem tomar por modelos. Newton e Pascal<br />

jamais tiveram mulheres na sua vida. Para o homem de ciência é<br />

necessário um tipo de mulher criada expressamente para ele. Um<br />

sábio, um filósofo, um pensador que tivesse para companheira<br />

mulher que não o compreendesse, não partilhando inteiramente<br />

da sua vida intelectual, seria mais desditoso, mais miserável,<br />

mais deserdado que um galé. Ora, a mulher intelectual é um<br />

pássaro raro.<br />

– Parece-me, contudo, que encontrastes exatamente esse pássaro<br />

raro. Ela renunciou a todas as suas crenças pelas vossas.<br />

Ama a Ciência, tem um verdadeiro culto pela Astronomia... E<br />

por vós.<br />

– Falo, compreendei-me bem, da sua educação mundana. Ela<br />

não poderia ser feliz aqui, renunciando a tudo quanto constituiu<br />

para ela o encanto da existência. A minha vida não é a dela.<br />

Seria o mesmo que unir um habitante de Mercúrio com outro de<br />

Netuno. O mundo lhe é necessário. Eu sou um selvagem, um<br />

bárbaro. Pobre flor! Consentir que a transplantasse para a areia<br />

do deserto seria condená-la à morte. Não sou assassino.<br />

– Meu caro Dargilan, sois de uma exageração fantástica. Por<br />

que o homem e a mulher que se amam não podem ser bem

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