19.04.2013 Views

Estela

Estela

Estela

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(A tumba é fenda de crivado cemitério<br />

Onde cai, grão obscuro em tenebroso campo,<br />

O pavoroso turbilhão das almas.)<br />

Esse campo tenebroso é a Noite. As almas o atravessam para<br />

passar de um mundo para outro. Esses mundos são os átomos do<br />

corpo do Universo. Temos sob os olhos uma grande unidade<br />

viva.<br />

– E que é a morte?<br />

– A morte é a porta pela qual a alma chega ao seu destino. Já<br />

viste alguma vez um morto? Que inefável sorriso no seu descansado<br />

semblante! Não é apenas o repouso dos músculos e dos<br />

nervos, no dizer dos médicos. Existe algo mais, uma expressão<br />

de alívio da vida, de contentamento íntimo, de desdém pela<br />

matéria, de um estado transcendente, que resta na fisionomia<br />

logo após a partida da alma. Desprendendo-se, já entreviu a luz<br />

etérea. É uma impressão análoga à que o aeronauta experimenta<br />

em balão quando chega acima das nuvens: sai do escuro, do<br />

espesso, do lodoso, e, encontrando-se de repente em uma luz<br />

embriagadora, frui uma alegria penetrante que o enche de felicidade.<br />

Não desejaria mais tornar a descer. Assim, e mais desprendida<br />

ainda, cintila a alma ao sair desta vida. Em um instante viu<br />

a luz, e a impressão permanece por muito tempo sobre o semblante<br />

inanimado, enquanto o luto e as lágrimas rodeiam o<br />

defunto de lúgubre aparato.<br />

A vida é igual a um sonho. As realidades que acreditamos ver<br />

em torno de nós não passam de aparências mentirosas: a Astronomia,<br />

a Física e a Química o provam. Durante a vida não temos<br />

consciência de nossas existências anteriores, de igual modo que,<br />

em sonho, não nos lembramos de nossos sonhos precedentes.<br />

Mas, saindo desta vida, nos desprendemos do véu sensual e nos<br />

lembramos do passado.<br />

O astrônomo se deteve, contemplando silenciosamente a<br />

magnífica noite estrelada. Depois, de súbito, voltando-se para a<br />

companheira.<br />

– Olha! exclamou, esqueci-me de dizer-te que amanhã, à noite,<br />

há uma brilhante reunião no Cassino de Luchon. A Comédia

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!