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Estela

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esse belo caráter, e um primeiro amor, vago e indefinido, nascera<br />

em seu coração.<br />

Tinha vivido até então inteiramente esquecido de si mesmo; o<br />

estudo havia absorvido os seus dias e as suas noites, absorvendo<br />

também as forças da sua juventude. Passava as noites ao óculo<br />

dos seus telescópios e os dias sobre tábuas de logaritmos, livros<br />

ou memórias científicas. Nada o interessava além da Ciência, e<br />

fora dela nada lhe parecia digno de tomar, por instante sequer, a<br />

atenção de um espírito sério.<br />

Que é o Universo? Qual o nosso destino? Era esse o imenso<br />

problema sempre enunciado diante dele e enchendo constantemente<br />

o seu pensamento.<br />

O pouco que havia visto da Humanidade lhe mostrara nessa<br />

raça seres incoerentes, nada razoáveis, muitas vezes maus,<br />

vivendo sobre a Terra sem saber como nem por quê, à custa uns<br />

dos outros, e, além disso, bastante nulos em qualidades. Sem ser<br />

misantropo, ficara estranho aos homens e olhara de muito longe<br />

o mundo humano, qual simples espectador. A Humanidade não o<br />

interessava em absoluto. Crescendo em sua alma, a luz intelectual<br />

teria consumido todas as pequenas paixões vulgares, se elas<br />

tivessem podido ali nascer.<br />

E eis que repentinamente um raio de Sol iluminara a paisagem<br />

humana, raio muito suave, de uma claridade celeste, vaporoso,<br />

imponderável, porém real. Essa luz trazia algo de Céu e de<br />

Terra. Sua vista se fartara a esse raio. <strong>Estela</strong> era uma luz que lhe<br />

fazia pressentir uma Humanidade desconhecida, de cuja existência<br />

ele nunca suspeitara. Sua curiosidade e sua ignorância não<br />

lhe pareceram desprezíveis. Apreciava ouvir sua voz tão clara,<br />

que cantava, parecendo musical; gostava de ver o seu olhar<br />

límpido, dilatado diante do infinito; agradava-lhe responder às<br />

suas perguntas ingênuas, e, quando ela passava alguns dias sem<br />

aparecer, parecia-lhe que algo lhe faltava, e sua melancolia<br />

habitual se tornava mais profunda.<br />

Sim, desde muitas semanas sentia-se atraído por esse fascínio,<br />

essa graça e essa beleza, e quisera ter resistido ao encantamento.<br />

Julgava-se forte, inteiramente conquistado pela Ciência;

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