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Estela

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espírito. Porém, sob essa mentalidade mundana de convenção e<br />

sob essa aparente correção, <strong>Estela</strong> notou de novo falhas e vácuos.<br />

Pareceu-lhe que tais opiniões não passavam de belas frases.<br />

Nada exprimiam. Bolhas de sabão que uma ponta de alfinete fura<br />

e faz desvanecer. Ouvindo-o, feria-a também a vulgaridade das<br />

idéias: nenhum sentimento intelectual ou estético. Quando<br />

muito, algumas sensações superficiais e assaz obtusas. <strong>Estela</strong> não<br />

conhecia a literatura “naturalista” contemporânea; mas, nessas<br />

conversações de salão, recebia uma impressão que a feria, sem<br />

que o percebesse nitidamente. Não se tomavam, aliás, precauções<br />

para narrar os últimos sucessos do teatro ou do romance.<br />

<strong>Estela</strong> ficou admirada desse gosto predominante pelas coisas<br />

abjetas e néscias.<br />

Falava-se um pouco de tudo. Um brilhante oficial, o Capitão<br />

Lomond, criticou certas obras literárias, recentemente aparecidas,<br />

e elogiou outras. Mas a discussão começou a animar-se; a<br />

condessa pediu um pouco de música.<br />

Os primeiros trechos foram ouvidos sem entusiasmo e em<br />

ambiente de distração generalizada, embora tivesse o violino<br />

estreante o talento de Sivori. Porém, a seguir, o duo de “Mireillle”,<br />

maravilhosamente cantado com ternura e paixão, cativou<br />

todas as opiniões, e o pequeno auditório pareceu esquecer, pela<br />

harmonia, as discussões literárias que o dividira momentos antes.<br />

Contudo, a própria música não podia passar de um intermédio,<br />

e não tardou que as conversações fossem reiniciadas. <strong>Estela</strong><br />

acabara de acompanhar ao piano a ideal e deliciosa serenata de<br />

“Don Juan”, muito agradavelmente cantada por sua amiga Cecília,<br />

e, sentada ao piano, ficara conversando a meia voz com ela,<br />

enquanto se reatava a palestra entre seu tio, o duque e o oficial.<br />

Embora falando, ela escutava, “com um ouvido”, essa conversação<br />

entre homens, e certamente nenhum dos três interlocutores<br />

imaginava estar sendo escutado por uma mulher, e muito menos<br />

por uma donzela.<br />

– Sim, sustentava o oficial, é a literatura nova, fim de século,<br />

como se diz; são o romance e o teatro novos, progresso literário<br />

ao qual ainda não estamos mais afeitos do que à música de<br />

Wagner. Mas não se pode negar que haja em tudo isso uma

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