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Estela

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achado a morte menos assustadora do que o eterno deserto do<br />

coração. Às vezes comparava o mundo ao oceano, dizia que a<br />

água das suas ondas era amarga e agitada, porém essa mesma<br />

água se tornava pura e doce elevando-se para o céu na evaporação<br />

solar. Desejaria evaporar-se no espaço.<br />

Dargilan, por seu lado, tivera todas as forças abatidas pelas<br />

emoções e lutas da consciência, e também fora obrigado a recolher-se<br />

ao leito por várias semanas, agitado por febre violenta.<br />

Ficara em estado de torpor inconsciente. Depois, gradualmente,<br />

os trabalhos intelectuais e as árduas pesquisas científicas absorveram<br />

seus pensamentos durante uma parte do dia. Nas noites<br />

límpidas, observações astronômicas urgentes ocupavam-lhe<br />

várias horas. Encontrava o quase esquecimento. Em face daquelas<br />

grandezas sublimes, o coração se acalmava. Por volta de<br />

meia-noite, quando regressava ao quarto de dormir, esquecia os<br />

trabalhos, folheava livros ou revistas, e se deitava para dormir;<br />

mas, então, cada noite, inevitavelmente, o sono se recusava a vir<br />

e a imagem adorada de <strong>Estela</strong>, evocada pela sua ardente paixão,<br />

surgia ante ele, circundada por uma dourada auréola.<br />

Conheceu as longas e cruéis insônias, a obsessão das idéias<br />

fixas que lhe atenazavam o cérebro, os desesperos, os abismos<br />

do coração, dos quais não se vêem o fundo, a tortura das angústias<br />

morais, as tristezas amargas da alma desorientada.<br />

Noite e dia, seu pensamento ia desvanecer-se no vácuo.<br />

Quando a fadiga quebrava seus nervos e lhe trazia um pouco de<br />

sono, então a alma se desprendia, voava, ia visitar a bem-amada.<br />

Aconteceu, em meio do inverno, que todas as noites, quando<br />

uma hora da madrugada, precedida dos quatro quartos de aviso,<br />

batia no sino sonoro de um velho relógio de castelo, em um<br />

jardim da Rua Vaneau, <strong>Estela</strong>, quer estivesse adormecida, quer<br />

estivesse acordada, via aparecer ao pé de seu leito o rosto de<br />

Rafael, contemplando-a fixamente. A aparição durava alguns<br />

segundos. Depois, o semblante amado se desvanecia, qual pálida<br />

claridade fosforescente. E <strong>Estela</strong> sentia que era adorada.

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