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Estela

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senão uma expressão suficientemente adequada, e ousarei dizer,<br />

para estar mais à altura da vossa linguagem: é sendeiro, ou, se<br />

preferis: porcaria. É linda a vossa evolução literária!<br />

– Não existe para as ditas peças nem um bilhete de entrada<br />

disponível. Veja-se bem que é o gosto atual. 500.000 francos de<br />

receita!<br />

– Meu caro duque, pode-se ter 100.000 francos de êxito, sem<br />

se ter dois centavos de valor real. Quanto ao gosto da maioria, eu<br />

o nego. Não está aí, nunca estará aí o gosto francês. Vai-se lá,<br />

como se lê, por mera curiosidade. Os franceses apreciam a finura<br />

das idéias, a delicadeza das sensações, a alegria, um pouco de<br />

“sal” chistoso, se assim querem, como diziam nossos pais, os<br />

requintes, os contos de Lafontaine, as histórias galantes de<br />

Bocácio ou da Rainha de Navarra, as gravuras de Fragonard e<br />

Moreau, tudo o que quiserem, mas não apreciam a indecência,<br />

mormente a licenciosidade sem espírito, nem a estimarão jamais.<br />

Esses livros e essas peças teatrais nos criam uma bem falsa<br />

reputação no estrangeiro. Não se podem ver sem tristeza esses<br />

folhetins de jornais, essa literatura rasteira, porque a moral de<br />

um povo depende muito da qualidade do que lê.<br />

– Oh! Meu caro conde, não está mais no “Lago” e na “Tarde”<br />

ou em “A Graça de Deus”. Não se segue mais, agora.<br />

Nas ondas do ar<br />

O carro da Noite que avança!<br />

O amor não é um sonho. Nós evolvemos, desde há meio século.<br />

É o progresso.<br />

– Os jovens, meu caro duque, não olham muito longe no passado;<br />

acreditam que o mundo recomeça com eles. Já fui assim<br />

também; mas, agora, sei que não fazemos senão continuar.<br />

Vossos autores “naturalistas” não parecem desconfiar de que<br />

reeditam, bem menos originalmente, o nosso velho Rabelais, e<br />

ressuscitam Aristófanes. Nada de novo debaixo do Sol. Reconduzem-nos<br />

há mais de 20 séculos para trás.<br />

E a isso chamais progresso? Estranho erro. É igual ao dos<br />

vossos pintores que vêem em tudo a cor violeta. Questão de<br />

retina. Daltonismo. Os jovens acreditam renovar a face da Terra;

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