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Estela

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observações astronômicas, e só se detiveram na pequena estação<br />

de Montrejeau, onde visitaram o local em que, a 9 de dezembro<br />

de 1858, caiu do céu uma pedra, da qual o astrônomo guardava<br />

preciosamente um fragmento em suas coleções. Foi com um<br />

júbilo inteiramente novo que retomaram seus queridos hábitos.<br />

Alguns dias depois, <strong>Estela</strong> fez testamento no qual pedia fosse<br />

o seu cadáver incinerado.<br />

O que eles mais estimavam, depois do trabalho intelectual,<br />

que dá ao espírito suas melhores alegrias, era a contemplação da<br />

Natureza. <strong>Estela</strong> se entregava, às vezes, diante do céu estrelado,<br />

de um poente, da imensa paisagem que se descortinava ao meiodia<br />

da Torre, a intermináveis devaneios. As formas cambiantes<br />

das nuvens que deslizam pela atmosfera, impelidas pelo vento,<br />

atraíam seus olhares e seus pensamentos. Contemplava-as em<br />

silêncio, vendo elevarem-se no horizonte longínquo. A impassibilidade<br />

tranqüila da Natureza, no eterno movimento das coisas,<br />

conduz à meditação. A alma se recolhe de algum modo para<br />

dentro de si mesmo, e parece obedecer a uma lei fatal. “Que<br />

mistério é a vida! Dizia com freqüência, que insondável mistério!<br />

As nuvens passam, a Terra gira, as estações e os meses se<br />

sucedem, os seres nascem, vivem, se agitam, morrem.” E tudo<br />

isso por quê? Que somos nós? Nuvens talvez. E sua alma se<br />

perdia em devaneios sem fim.<br />

E assim se passavam os tempos.<br />

Certo dia de outubro, à sobremesa de opíparo almoço, Rafael<br />

parecia mais alegre que de costume.<br />

– Que achaste destes pêssegos, meu amor?<br />

– Excelentes, deliciosos. Que suco! Que olor!<br />

– Há um pouco de ti dentro deles.<br />

– Que estás dizendo?<br />

– Não adivinhas?<br />

– Não, de forma alguma. Não são muito grandes, mas, de fato,<br />

excelentes.<br />

– São nossos filhos.<br />

– Rafael, falas sempre por enigmas.

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