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contrair hábitos de luxo e acostumar à preguiça. É uma tendência<br />
perigosa. A riqueza é, pois, má conselheira. Depois, admitis, não<br />
é verdade? que se temos dinheiro é para nos servirmos dele. Se o<br />
guardamos, de nada serve, e inútil se torna possuí-lo. Não é<br />
verdade que, por isso, estamos de acordo em que cada um se<br />
serve do seu dinheiro?<br />
– Evidentemente, não compreendo a avareza dos seres que<br />
passam a vida empilhando títulos de renda para morrer sobre<br />
eles. É o cúmulo da estupidez.<br />
– Portanto, dele devo servir-me. Dizei-me: em que se emprega<br />
o dinheiro? A gerir essa fortuna no legítimo desejo de não a<br />
perder... A acompanhar a cotação dos títulos de renda... A comprar<br />
propriedades?... A sustentar estabelecimentos de caridade?<br />
No dinheiro de S. Pedro?... Mantendo dançarinas?... Dedicandose<br />
a corridas de cavalos?... Dando-se à caça de lebres e coelhos?<br />
Vejamos, em que, em sua opinião?<br />
– Entendo que... no objeto do desejo de cada um...<br />
– Em suma, antes de tudo é preciso manter um modo de vida<br />
correspondente à fortuna. Se tem sessenta ou oitenta mil francos<br />
de renda, não é conveniente residir em um casebre igual a este. É<br />
necessário um todo de serviços domésticos, no inverno, em<br />
Paris, Nice ou Nápoles; no verão, em um castelo, algumas viagens,<br />
etc. É indispensável, sob pena de fracasso, uma instalação<br />
condigna, cozinheira, camareiro, cocheiro, e outros serviçais<br />
ainda, se se é casado. Ides responder-me que não é desagradável<br />
estar bem instalado e ter todas as correspondentes facilidades.<br />
Esperai! Conversaremos ainda, já que viestes para tal fim. Habitamos,<br />
por suposição, uma propriedade de alguns hectares (simplifico<br />
o mais possível) embelezada por belo parque, repuxos,<br />
bom pomar, uma boa horta. Estou a ouvir desde aqui as perguntas<br />
cotidianas: Senhor! Há um tanque vazando; quer que chame o<br />
pedreiro?... Senhor, a carruagem foi derrubada pelo novo cavalo,<br />
que é muito espantadiço; parece também que a aveia está misturada...<br />
A senhora perguntou hoje que fim tiveram os pêssegos de<br />
próximo do pavilhão: o vento os derrubou... Devo avisar também<br />
ao senhor que deu oídio na parreira... Um canto do muro que<br />
fecha o parque foi derrubado por malfeitores; o senhor não acha