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Observatórios, ninguém, à hora presente, teria ouvido falar das<br />
maravilhosas observações feitas sobre esse globo vizinho por<br />
tantos astrônomos, inclusive ele. De minha parte, aprovo-o por<br />
se fazer ler em vez de deixar “a luz debaixo do alqueire” e acho<br />
estúpido recriminá-lo. Preferia até vê-lo um pouco mais vulgarizador,<br />
a exemplo de Fontenelle, Buffon, Lalande, Humboldt,<br />
Arago, Darwin, Haeckel. Mas ele não corteja o sufrágio universal.<br />
O que escreve, fá-lo com cuidado, eis tudo, com sinceridade<br />
e com fé. E o recriminam! Esses julgamentos são realmente<br />
bizarros. Sempre as divisões, as categorias, as seleções. Para<br />
serdes lógicos, devíeis também recriminar Galileu, Descartes,<br />
Leibnitz, d'Alembert, Laplace e Cuvier por terem sabido escrever.<br />
Como quereis, deve-se ser ou literato ou sábio! Em outros<br />
termos, o literato deve ser ignorante, os escritores devem falar<br />
para nada dizer, para “reamassar” sempre as mesmas histórias<br />
que não se alteraram desde o dilúvio! Eis o que chamais literatura:<br />
prosa ou versos que nada ensinam, romances que só têm por<br />
objeto recomeçar sempre os mesmos contos de pessoas que se<br />
abraçam para enganar, que noivam, comem e bebem, que se<br />
batem em duelo ou que assassinam, em uma palavra, a descrição<br />
das ações humanas. Mais banais e mais vulgares, e algumas<br />
vezes, porém, muito raramente, de sentimentos algo mais refinados<br />
e nobres! Tal qual no teatro! Sempre a mesma peça, sempre<br />
o adultério: o marido, a mulher e o amante. Sempre o quarto de<br />
dormir e a sala de jantar. Eis toda a Humanidade. Para vós, um<br />
escritor não deve sair da pele das pessoas que vemos viver em<br />
torno de nós e, principalmente, nada deve ensinar de ciências<br />
exatas; é um crime elevar o espírito humano a esferas mais altas!<br />
Eu vos confesso que essa classificação me parece uma pura<br />
estupidez, perdoai-me a expressão, pois não encontra outra<br />
melhor, uma idiotice. Recriminar um astrônomo, um médico, um<br />
naturalista, um geólogo, um químico, por imaginar ele uma<br />
elegante moldura para expandir suas idéias, o que ele acredita ser<br />
a verdade, é um falso raciocínio. Vós dizeis que os seus colegas<br />
o apelidaram de literato e que os literatos o rejeitaram por sábio.<br />
Que lhe pode fazer isso? Em que lhe pode interessar a opinião de<br />
Pedro ou de Paulo? Ele não tem ambição, nada deseja, é independente.<br />
Sabe que influi sobre os espíritos do mundo inteiro;