19.04.2013 Views

Estela

Estela

Estela

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

– Se fosse razoável, não seria amor, replicou o velho notário.<br />

Mas isso passará. Tudo passa.<br />

– Não tem observado, acrescentou o conde, que, em geral, as<br />

mulheres não raciocinam?<br />

– Jamais igual a nós outros, em todos os casos. Mas é provável<br />

que elas julguem raciocinar, e o fazem à sua maneira. Não<br />

me refiro às enamoradas. Nessa hipótese, elas nem sonham em<br />

raciocinar.<br />

– E os enamorados, então?<br />

– Caluda! Já se escoaram mais de seis lustros... E, demais, os<br />

homens têm desculpas: as mulheres são tão belas!<br />

– Basta! Basta! Senhor notário.<br />

Seis longos meses tinham decorrido. Os parentes e as últimas<br />

amigas de <strong>Estela</strong> esperavam a cada dia receber a sua decisão,<br />

sobre a escolha do convento.<br />

Falava-se de Lourdes e de Pau. <strong>Estela</strong> observou que, desde o<br />

dia em que sua fortuna deixou de lhe pertencer, os padres cessaram<br />

as visitas.<br />

Na sua solidão dos Pirineus, Dargilan, por sua vez, caíra em<br />

negra melancolia. Foi a muito custo que, no decorrer do inverno,<br />

chegou a escrever algumas cartas aos grandes espíritos com os<br />

quais mantinha correspondência. Dirigira duas a Victor Hugo.<br />

Sem dúvida exprimiu, sem de tal aperceber-se, um estado de<br />

alma bem perturbada, pois a resposta do poeta (uma das últimas<br />

cartas que escrevera meses antes da sua morte) terminava por<br />

esta divisa dos conjurados do “Ernâni”.<br />

“Ad augusta per angusta.”<br />

Victor Hugo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!