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Estela

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– Sim, a miséria. Não tenhas dúvida. Sem criados, pois afinal<br />

de contas esse velho jardineiro e sua mulher ou nada é quase a<br />

mesma coisa. Não vais cozinhar com essas mãos!<br />

– E por que não?<br />

– Lavar louça, engraxar seu calçado!<br />

– Maria Madalena não enxugou os pés do Cristo com a sua<br />

cabeleira, e o próprio Jesus não lavou os pés aos seus apóstolos?<br />

– Estás completamente louca. E pensas que ele te amará com<br />

mãos avermelhadas e encardidas? E depois cairás doente, fatigar-te-ás,<br />

esgotar-te-ás, ficarás feia, morrerás. Oh! Meu Deus!<br />

Vamos, minha <strong>Estela</strong>, eu te suplico, ainda é tempo, raciocina,<br />

reflete, o caso é sério, é a tua vida! É a tua morte, talvez. <strong>Estela</strong>,<br />

vejo mais longe do que tu. Quanto eu te lamento!<br />

Tomou-a em seus braços, soluçando.<br />

– Ele ou o convento, replicou. A verdade ou coisa nenhuma.<br />

– O convento! Exclamou Cecília, Carmelita! Pois bem, irei<br />

contigo.<br />

Essas discussões entre as duas amigas se tornaram freqüentes,<br />

sem produzir mudança alguma no estado de alma de <strong>Estela</strong>.<br />

Durante os dois primeiros meses, escreveu algumas vezes ao<br />

Dr. Bernard, a pretexto de consulta, porém, em verdade, na<br />

esperança de ouvir o eco longínquo de uma voz amada. Não<br />

recebeu dele nenhuma palavra escrita; apenas, dois dias após seu<br />

retorno à Capital, uma rosa e um pensamento ligados. O outono<br />

chegara, trazendo seus dias cinzentos para o céu de Paris, e a<br />

tristeza do adeus do Sol. Uma carta lhe trouxe a noticia de que o<br />

“Solitário” estivera doente, de que se achava em convalescença,<br />

de que se insulara mais do que nunca em seus estudos e de que<br />

preparava um livro sobre “o amor no além da vida”.<br />

Podemos ensaiar a sondagem desse abismo vivo que se chama<br />

– o coração humano, e jamais encontraremos nele uma<br />

alegria ou dor iguais às que pode causar o sentimento do amor.<br />

Bem depressa os parentes de <strong>Estela</strong> julgaram compreender<br />

que ela estava decidida a tomar o véu de freira. A jovem sentia<br />

que para amar a vida era preciso partilhá-la com outrem; e teria

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