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Estela

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Nesse momento abriram-se as portas do salão onde ia ser servido<br />

o café. A baronesa levantou-se, o abade ofereceu-lhe galantemente<br />

o braço, e todos os convivas os acompanharam.<br />

– Vejo, disse <strong>Estela</strong> a seu tio, que não iremos visitar esse Observatório.<br />

– Falais a todo instante em independência, disse o barão.<br />

Como se pode ser independente sem fortuna? Eis aí outra questão.<br />

Nosso “Solitário” vive lá em cima numa indiferença e num<br />

desinteresse extraordinários.<br />

– Oh! A esse respeito, acrescentou a baronesa, é um tipo original.<br />

Não se importa com coisa alguma. Não tem ambição de<br />

nenhuma espécie, nem sequer a da glória, que, no entanto, é<br />

nobre, pois os livros que deu a imprimir, dizem, foi preciso<br />

arrancar-lhos. Quanto a dinheiro, vota-lhe o mais absoluto desdém.<br />

Não é um pouco maníaco? Ninguém se isola assim impunemente<br />

da Humanidade.<br />

– Com que vive esse indivíduo? replicou o abade, pois, no<br />

fim de contas, “primo vivere, deinde philosophare”.<br />

– Isso não o preocupa. Trabalha no que lhe agrada e é tudo.<br />

– Dizem-no de uma sobriedade pitagórica. Bebe água e se nutre<br />

com flores de acácia, interveio a baronesa. É um anacoreta,<br />

um vegetariano.<br />

– Vive sozinho?<br />

– Sim, disse o doutor. Aliás, vivendo isolado o homem permanece<br />

livre. A ambição é uma escravidão e as próprias afeições<br />

são cadeias.<br />

– Por mim, replicou o conde, não posso deixar de admirar sua<br />

obra. E de mais a mais (disse olhando para o sacerdote a quem<br />

não perdoava o dito) a religião da Ciência nunca fará correr rios<br />

de sangue! Sua filosofia astronômica abriu novos horizontes à<br />

Humanidade. Tem numerosos adeptos espalhados pelo mundo<br />

inteiro. Interrogai os viajantes: em qualquer país da Terra, seja<br />

na América, África, Ásia ou Austrália, não se fala no firmamento<br />

sem que seja lembrado o seu nome, seu nome anônimo podemos<br />

dizer, pois, no seu desprendimento por tudo, nem sequer se deu

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