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Estela

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ouviam sem se falar. E assim também um mesmo sentimento<br />

intuitivo pareceu emergir em seus corações: o de já terem vivido,<br />

conservado certas idéias, certas preferências adquiridas em uma<br />

existência anterior, e de já se haverem conhecido. Uma afinidade<br />

misteriosa parecia uni-los por laços predestinados. <strong>Estela</strong> amavao<br />

sem reservas, tinha-o na alma, no próprio sangue, vivia nele;<br />

ele vivia nela. Tornara-se a atmosfera do “Solitário”, o ar que ele<br />

respirava. Um dia, algumas semanas depois da chegada, disselhe<br />

de chofre:<br />

– Querido amor, quando nos casaremos?<br />

– Quando quiseres.<br />

– Na igreja? Na pretoria apenas?<br />

– Conforme preferires. Nos Estados Unidos, na Inglaterra,<br />

muitas vezes é suficiente uma curta cerimônia, perante um<br />

pastor. Algumas vezes é celebrada em casa à meia-noite. Não há<br />

muito, li a narração de um casamento religioso realizado pelo<br />

telefone. Muitas vezes, bastam colocar as assinaturas em um<br />

livro do consulado. Todas essas convenções são respeitáveis,<br />

mas não passam de convenções sociais. Poderíamos também ir<br />

um dia casar em Bosost.<br />

– Na Espanha?<br />

– É mais perto do que Luchon.<br />

– Mas... És espanhol?<br />

– Não.<br />

– És francês?<br />

– Certamente; porém, sou antes europeu do que francês; mais<br />

cidadão do globo do que europeu – e mais ainda cidadão do<br />

sistema solar – e muito mais ainda cidadão do céu. A Terra é<br />

pequena, e o nosso sistema solar, no qual o nosso planeta não<br />

passa de uma formiguinha, é, ele próprio, bastante medíocre.<br />

– Conheço as tuas idéias internacionais e interplanetárias.<br />

– Para o astrônomo não há fronteiras em nosso globo; não<br />

podem existir. De resto, as pretensas fronteiras existem apenas<br />

nos mapas, no papel. Os campos não mudam de lugar, nem os<br />

cultivadores, nem as aldeias. São os políticos, que vivem de

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