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– É o movimento do maquinismo de relógio.<br />
Um ruído surdo, ligeiramente cadenciado, resultava da marcha<br />
do mecanismo do relógio encerrado no pé da luneta. Esta,<br />
arrastada por aquele movimento qual uma agulha colossal,<br />
girava em sentido contrário ao da rotação da Terra, e conservava<br />
o astro imóvel no campo visual. O observador, ocupado com o<br />
estudo de um astro, segue esse astro no seu curso aparente e, de<br />
certo modo, a Terra gira sob seus pés sem que ele de tal se<br />
aperceba.<br />
Esse ruído, monótono, igual ao sussurro da água de um rio,<br />
acentua mais do que diminui o silêncio. É a calma, o isolamento,<br />
o recolhimento de um santuário. A criatura se sente longe de<br />
tudo. Por vezes a observação é penosa e difícil. Trata-se de<br />
esperar, em uma posição nalguns casos fatigante, um fenômeno<br />
celeste, apanhá-lo de relance, apreciar o momento exato da<br />
passagem de um ponto sobre o último fio do retículo da luneta,<br />
de medir uma distância infinitamente pequena na aparência,<br />
infinitamente grande na realidade. O astrônomo, na plenitude da<br />
noite silenciosa, é, ao mesmo tempo, juiz e sacerdote, juiz das<br />
leis do Universo, sacerdote do Eterno. Isolado em face do Infinito,<br />
vê girar em torno dele os céus e os mundos, e, ensaiando<br />
deter seu pensamento sobre a ordem invisível que rege o Cosmos,<br />
ele próprio se sente arrebatado no inexorável movimento<br />
das coisas. Quando o ruído de relógio cessa, o silêncio absoluto<br />
que lhe sucede parece, por vezes, lançar o contemplador na<br />
imensidade do Espaço e abandoná-lo ao Nada.<br />
Rafael e <strong>Estela</strong> saíram ao terraço para observar Júpiter, a olho<br />
nu, em meio às estrelas.<br />
– Olha que luz súbita!<br />
– Olha depressa!<br />
– Um bólido. Nunca vi um.<br />
– Observemos, e, principalmente, nem uma palavra!<br />
Um magnífico bólido, com efeito, atravessava lentamente o<br />
céu de este a oeste. Tiveram tempo, sem perdê-lo de vista, de vêlo<br />
aumentar ainda, até igualar à quarta parte do diâmetro lunar,<br />
mudar de cor, do verde esmeralda para o branco incandescente, e