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Estela

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pobre cristalino já descorado pela agonia. Foi jovem antes de<br />

nós. É um astro do passado.<br />

– O céu também vive seus dramas e suas tragédias, disse o<br />

conde.<br />

– Mostrar-vos-ei ao telescópio estrelas tão rubras que parecem<br />

gotas de sangue, pérolas de rubis brilhando na imensidade.<br />

É um escrínio de jóias infinito.<br />

O céu, imagem da noite e da morte! A imobilidade aparente<br />

das estrelas no firmamento! O silêncio secular e a antiga solidão<br />

das profundezas estreladas! Não há no mundo erro mais ingênuo<br />

do que a nossa impressão! Não se compreende o céu. É a vida, é<br />

o movimento, é a força, a energia, a luz, o calor, o sol! Que digo<br />

o sol? É um turbilhão de sóis sem número, precipitando-se<br />

através dos abismos do Infinito, é uma fantástica conflagração de<br />

mundos desconhecidos arrebatados na imensidade; nossas revoluções<br />

humanas, nossos terremotos, nossas tempestades e trovoadas,<br />

são sorrisos de crianças comparadas a esses movimentos de<br />

forças colossais.<br />

O céu é a Terra multiplicada milhões de vezes, e a Terra é um<br />

caminho do céu. Estamos no céu. A Terra que habitamos faz<br />

parte dele. É um planeta, um globo suspenso no espaço, tal qual<br />

está a Lua, Vênus ou Júpiter. Eis a verdade. Todas as idéias<br />

humanas, de que a vida está cheia, são falsas. A Humanidade se<br />

satisfaz com elas, porque é ignorante.<br />

– Meu caro mestre, exclamou o conde, sois o verdadeiro poeta<br />

da noite. Na minha infância li e admirei as “Noites”, de<br />

Young, e lembro-me ainda de sua invocação: “Oh! noite majestosa,<br />

augusta ancestral do Universo, tu que, nascida antes do<br />

astro dos dias, deves sobreviver-lhe ainda, onde começarei, onde<br />

terminarei teu panegírico? Tua fronte caliginosa é coroada de<br />

estrelas, as nuvens matizadas pelas sombras e enroscadas em mil<br />

contornos compõem a tua imensa roupagem.” Sim, é uma bela<br />

invocação. Parece-me, porém, aí se canta uma noite artificial,<br />

feitura das mãos dos homens. Não diz ele que “o firmamento se<br />

assemelha ao peitoral do sacrificador, semeado de pedras preciosas<br />

e distintivas dos oráculos?” Não diz também que “a noite é

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