24.12.2018 Views

Código Tributário Nacional - Hugo de Brito Machado Segundo - 2017

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

escolhida a opção sujeita à maior carga tributária. No exemplo citado, caso o contribuinte opte<br />

por alugar a máquina, em vez <strong>de</strong> comprá-la, a autorida<strong>de</strong> fiscal po<strong>de</strong>ria “<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar” o<br />

aluguel, e “requalificá-lo” como compra e venda, para exigir os impostos inci<strong>de</strong>ntes sobre a<br />

compra e venda.<br />

Boa parte da doutrina consi<strong>de</strong>ra tal norma inócua, ou inconstitucional. Inócua, se entendida<br />

como mera autorização para que atos praticados com frau<strong>de</strong> ou simulação sejam<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados. Isso porque a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, nesses casos, já vinha sendo feita pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s, e admitida pela jurisprudência, sendo aliás autorizada pelo próprio Direito<br />

Privado. Inconstitucional, se entendida como autorização para que fatos lícitos e perfeitamente<br />

válidos, mesmo à luz <strong>de</strong> outros ramos do Direito, sejam “<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados apenas para fins<br />

tributários”. Haveria, nesse caso, ofensa ao princípio da legalida<strong>de</strong>, pois, através da norma<br />

antielisão, a autorida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria tributar fatos não previstos em lei como “geradores” do tributo.<br />

Em outras palavras, a norma antielisão estaria a autorizar a autorida<strong>de</strong> fiscal a tributar por<br />

analogia: aplicar a lei tributária a fatos não previstos em lei, mas a fatos “parecidos” com<br />

aqueles já previstos, na medida em que produzem os mesmos efeitos econômicos (cf. <strong>Hugo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Brito</strong> <strong>Machado</strong>, Comentários ao <strong>Código</strong> <strong>Tributário</strong> <strong>Nacional</strong>, São Paulo: Atlas, 2004, v. 2, p.<br />

362; Sacha Calmon Navarro Coelho, Curso <strong>de</strong> Direito <strong>Tributário</strong> Brasileiro, 9. ed., Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Forense, 2006, p. 680 e ss.). Outros autores, porém, enten<strong>de</strong>m que a mesma é<br />

necessária para que possam ser <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados precisamente esses negócios que, não obstante<br />

lícitos e regulares à luz do Direito Privado (não eivados <strong>de</strong> frau<strong>de</strong> à lei, simulação, abuso <strong>de</strong><br />

direito etc.), implicam pagamento <strong>de</strong> menor tributo, o que seria contrário aos princípios da<br />

isonomia e da capacida<strong>de</strong> contributiva (Marco Aurélio Greco, Planejamento <strong>Tributário</strong>, São<br />

Paulo: Dialética, 2004, p. 418). Po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r, ainda, que mesmo não sendo possível<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar negócios não eivados <strong>de</strong> patologias, é possível fazê-lo em relação àqueles<br />

situados em região <strong>de</strong> fronteira, cinzenta, entre os campos em que seria clara a elisão (lícita) e a<br />

evasão (ilícita), sendo para esse tipo <strong>de</strong> situação que a “norma antielisão” seria aplicável. Tal<br />

norma, porém, não foi ainda regulamentada, conforme será explicado em nota posterior.<br />

7. Norma antielisão e interpretação econômica – Há quem afirme que a norma antielisão,<br />

prevista no plano das “normas gerais” no art. 116, parágrafo único, do CTN, representa a<br />

consagração da chamada “interpretação econômica” no Direito <strong>Tributário</strong>, que teria sido<br />

<strong>de</strong>fendida por Amílcar <strong>de</strong> Araújo Falcão. Não é <strong>de</strong>mais lembrar, porém, que mesmo o citado<br />

autor advertia, ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a interpretação econômica, que “nem toda vantagem fiscal alcançada<br />

pelo contribuinte constitui uma evasão. Para tanto é indispensável que haja uma distorção da<br />

forma jurídica, uma atipicida<strong>de</strong> ou anormalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta última em confronto com a relação<br />

econômica que através <strong>de</strong>la se exterioriza. De outro modo, evasão não há. Po<strong>de</strong> ocorrer que o<br />

contribuinte disponha <strong>de</strong> seus negócios, <strong>de</strong> modo a pagar menos tributos. Nada o impe<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que não ocorra aquela manipulação do fato gerador, no que toca ao seu revestimento jurídico”.<br />

(Fato gerador da obrigação tributária, 7. ed., Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2002, p. 34). Nesse<br />

campo, realmente, uma coisa é <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que as normas tributárias <strong>de</strong>vem ser interpretadas<br />

consi<strong>de</strong>rando-se a substância das realida<strong>de</strong>s a que dizem respeito (o que <strong>de</strong> resto vale para<br />

qualquer norma, inclusive para o Direito Privado, no qual os contratos, por exemplo, têm sua<br />

natureza <strong>de</strong>terminada pela essência <strong>de</strong> suas cláusulas e não pelo nome formal que as partes<br />

eventualmente lhe dêem). Outra coisa, bem diferente, e a nosso ver inteiramente inadmissível, é<br />

afirmar que o contribuinte <strong>de</strong>ve sempre optar pela alternativa mais onerosa do ponto <strong>de</strong> vista<br />

tributário.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!