Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Uma universidade nova, aberta às novas utopias<br />
Torna-se necessário não perder de vista que a<br />
<strong>Uneb</strong> surge quando os anseios pela redemocratização<br />
do País se fortalecem e tornam irreversíveis os<br />
anseios por liberdade de expressão, de pensamento,<br />
de normalidade institucional, de ampliação incondicional<br />
do acesso ao ensino superior pelas diversas<br />
camadas sociais a despeito das limitações impostas<br />
pelas autoridades federais para a abertura do ensino<br />
superior sob jurisdição estadual. Segundo registro<br />
de Fialho (2005), a respeito da criação da <strong>Uneb</strong>,<br />
o Professor Edvaldo Boaventura, então Secretário<br />
de Educação do Estado da Bahia, assim revela:<br />
“[...] dura e decisiva, árdua e muito difícil [...]”<br />
(BOAVENTURA, 1998, p 237) a implantação da<br />
<strong>Uneb</strong>. Prosseguindo a autora acrescenta:<br />
122<br />
[O Professor Boaventura] Considera que o maior<br />
problema deveu-se às divergentes interpretações<br />
quanto à competência do Estado para criar uma universidade,<br />
resultando num processo bastante tenso,<br />
entre as instâncias estaduais e federais, até a sua<br />
conclusão. Com relação ao modelo multucampi, o<br />
Professor Boaventura manifesta, em várias ocasiões,<br />
a sua convicção quanto a tratar-se da melhor opção<br />
para o sistema estadual de educação superior na<br />
Bahia, como forma de assegurar a sua interiorização,<br />
atingindo comunidades mais longínquas, sempre<br />
na ótica de um modelo articulado entre campi autônomos,<br />
com prerrogativas para prosseguirem seu<br />
desenvolvimento até a sua própria transformação em<br />
universidade (FIALHO, 2005, p. 94-95).<br />
O panorama político, marcado especificamente,<br />
pela campanha nacional pelas “Diretas Já” e pela<br />
re-institucionalização do País, caracterizava-se<br />
pela mobilização universal dos mais amplos setores<br />
e classes sociais, de burgueses a operários e<br />
de estabelecidos a excluídos. De fato, a ideia de<br />
redemocratização do País tornou-se possível mediante<br />
a constituição de uma aliança política sob a<br />
qual se abrigaram muitos interesses, por vezes até<br />
contraditórios entre si, mas todos sob a bandeira do<br />
retorno do País à institucionalidade democrática.<br />
A <strong>Uneb</strong> surge, portanto, iniciando seus primeiros<br />
passos em torno da formação de quadros para<br />
atuarem no ensino fundamental, ou seja, começou<br />
sua histórica missão pelo subsídio acadêmico fundamental<br />
para o desenvolvimento – a formação do<br />
professor. Ainda hoje, essa opção encontra seu sentido<br />
na carência de quadros qualificados para o de-<br />
sempenho do ensino básico 2 , sobretudo nas regiões<br />
de mais difícil acesso do Estado. Contudo, apesar<br />
das limitações impostas à área da educação pública<br />
pela administração superior do Estado da Bahia,<br />
a mobilização do magistério, do alunado e, mais<br />
ainda, dos núcleos de interesse intra-regionais têm<br />
conseguido ampliar o elenco de cursos oferecidos<br />
regionalmente, mais de 120 atualmente, em toda a<br />
Universidade, organizados conforme o potencial<br />
instalado nos departamentos de cada campus. É<br />
comum, no entanto, a situação de que nem sempre<br />
as regiões onde estão situados os campi dispõem<br />
de quadros suficientes para atender à demanda dos<br />
cursos ali instalados. Neste caso, como uma das<br />
características da universidade multicampi, além<br />
do professorado residente nas respectivas bases dos<br />
campi, a <strong>Uneb</strong> assume também um professorado<br />
itinerante.<br />
O contexto socioeconômico<br />
As motivações básicas que orientaram e que<br />
continuam orientando o desenvolvimento dos<br />
estudos avançados e da pesquisa na <strong>Uneb</strong>, assim<br />
como, suas atividades de extensão, encontram suas<br />
raízes nos processos sociais que tiveram curso no<br />
Estado da Bahia desde a chegada do colonizador<br />
português, passando pelas lutas libertárias contra<br />
os sistemas de opressão aqui instalados ao longo do<br />
percurso histórico do Brasil, tanto como colônia,<br />
quanto como nação independente, e que produziram<br />
marcas profundas de submissão e de discriminação<br />
cultural e étnica no seu povo, reproduzindo<br />
desigualdades sociais até os nossos dias.<br />
As ciências sociais, do mesmo modo como<br />
serviram aos setores hegemônicos da sociedade<br />
para manterem e até ampliarem as suas formas de<br />
dominação, contraditoriamente, através de estudos<br />
avançados desenvolvidos tanto no exterior como<br />
2 O autor prefere usar a expressão “ensino básico” para se referir à<br />
idéia de “educação básica” como está no texto da LDB, por entender<br />
que o processo da educação é distinto do processo de escolarização<br />
que caracteriza o ensino. O processo da escolarização tem princípio,<br />
meio e fim, diferentemente do processo de educação que apenas tem<br />
início, mas que nunca se completa. Assim, a educação antecede,<br />
convive e ultrapassa a escolarização. As implicações práticas desse<br />
entendimento, numa visão adorniana, levam ao reconhecimento de<br />
que se pode ter indivíduos altamente escolarizados sem que tenham<br />
sido verdadeiramente educados.<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 119-127, jul./dez. 2009<br />
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