18.04.2013 Views

Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Universidade, supercomplexidade e desconstrução<br />

horas ao dia, in real time. E não queremos fazer<br />

uma apologia disso. A Universidade moderna e<br />

sua produção epistemológica unilinear, isolada de<br />

outras possibilidades de produção e de sentido,<br />

naufraga neste mundo hipercomplexo, no qual, para<br />

compreendê-lo, tem que se adaptar flexivelmente, o<br />

que não quer dizer aceitar, sem mais, a violência do<br />

sistema. Muitos jovens rejeitam hipercriticamente<br />

a violência exercida sobre seus ritmos próprios<br />

de existência. Assim, suas resistências às normas<br />

institucionais são muito mais evidentes, hoje, do<br />

que em outras épocas, embora sejam geralmente<br />

resistências passivas. Pode parecer paradoxal,<br />

mas essa flexibilidade, longamente construída e<br />

formatada pelo capitalismo cultural dos últimos<br />

50 <strong>anos</strong>, funciona contraditoriamente nas instituições<br />

às quais, ao mesmo tempo, o próprio capital<br />

continua a dar suporte material e político, tais<br />

como: o Estado, a Universidade, a Ciência. Nestas<br />

instituições, a indeterminação epistemológica e a<br />

incerteza ontológica são mal suportadas e não propriamente<br />

bem vistas; suas formas organizacionais<br />

ainda obedecem à lógica hierárquica e rígida, tão<br />

necessária à modernidade industrial. Por isso, para<br />

muitos jovens atuais, num mundo pós-industrial,<br />

hiperconectado, supercomplexo social e existencialmente,<br />

a educação e a política atuais são chatas,<br />

e o trabalho burocrático e a cadeia de produção<br />

insuportáveis.<br />

Leiamos um elemento final do texto de<br />

Rifkin:<br />

168<br />

Este novo eu protéico deve muito a essa densa<br />

interação humana ocasionada pelos transportes e<br />

comunicações modernos. [...] O cambio qualitativo<br />

em nossa interação requer pessoas mais flexíveis,<br />

capazes de adaptar-se constantemente a ambientes<br />

cambiantes, a novas circunstâncias e a expectativas<br />

diversas. [...] Em vez de pensar em si mesmo como<br />

uma propriedade – fazer algo de si próprio –, o<br />

novo eu tende a se considerar como uma historia em<br />

andamento, constantemente atualizada e reeditada.”<br />

(RIFKIN, 2000, p. 265).<br />

É um eu relacional 11 , montado mais do que<br />

numa cadeia de produção industrial, numa edição<br />

de película; mais similar à lógica fragmentaria e<br />

hipertextual dos weblogs. A película e o weblog<br />

são para que os outros os vejam e se interessem<br />

por nós. Na realidade, o weblog 12 aparece como<br />

possibilidade cibernética, porque as pessoas começavam<br />

já a fazer de suas vidas um weblog, e<br />

não o contrario.<br />

Nesse sentido concordamos com a proposição<br />

de Lyotard no seu outro ensaio “O pós-moderno<br />

contado às crianças”, no qual afirma em relação à<br />

pintura moderna:<br />

Vou chamar de moderno a arte que consagra sua petite<br />

technique, como dizia Diderot, a ‘presentificar’ o<br />

que há de ‘impresentificável’. Fazer ver que há algo<br />

que se pode conceber e que não se pode nem fazer<br />

ver: esse é o propósito da pintura moderna. (...) Uma<br />

obra somente pode tornar-se moderna se, primeiro, é<br />

pós-moderna. O pós-modernismo, entendido assim,<br />

não é o modernismo no seu estado terminal, mas<br />

no seu estado nascente, e esse estado é constante.<br />

(LYOTARD, 1987, p.22-24).<br />

Talvez, o que pode confundir aqui é a denominação<br />

“moderna” usada em relação à pintura, mas tem<br />

que ser pensada como oposta à pintura “clássica”,<br />

existente até quase finais do século XIX.<br />

Efetivamente, a pintura “moderna” é não clássica,<br />

e o classicismo estético é a melhor expressão da<br />

modernidade propriamente cultural e econômica,<br />

e a “modernidade” estética na realidade já é a pósmodernidade<br />

cultural em jogo. O que nos interessa<br />

disso tudo é este poder que a pintura “moderna”<br />

tem, que é o de plasmar o que não é; apenas pode se<br />

conceber (no sentido de que apenas existe “conceito”),<br />

mas se pode expressar somente esteticamente<br />

um quadro de Cézanne, o cubismo, o expressionismo<br />

abstrato, o surrealismo etc., sendo que isso<br />

não existe presente em nenhum lugar “objetivo”.<br />

Isso é ‘impresentificável’, não tanto no sentido de<br />

11 Para Rifkin (2000, p. 274), “Se está dando un curioso fenómeno<br />

entre un número cada vez mayor de jóvenes de los barrios y urbanizaciones<br />

más adinerados de los países industrializados. Los adolescentes<br />

tienden a concluir sus frases en un tono ligeramente más elevado y<br />

vacilante, como sugiriendo que lo que acaban de decir es más una<br />

pregunta que una afirmación. Esta costumbre tan extendida – que suele<br />

denominarse sobreentonación – pronto atrajo la atención de sociólogos<br />

y psicólogos, que se preguntan si no será un síntoma del cambio de<br />

un yo autónomo por otro relacional. El carácter condicional y abierto<br />

de esta nueva manera de hablar sugiere que los propios pensamientos<br />

necesitan vincularse a las reacciones ajenas para que tengan sentido y<br />

se convaliden. La oración declarativa, propia de un carácter autónomo,<br />

parece dar paso a la oración inquisitiva del yo relacional.”.<br />

12 Para ter uma excelente descrição do que é a cultura dos weblog e<br />

de sua alta produtividade autoral, e contrariando a idéia da morte do<br />

autor no ciberespaço, veja-se: PISCITELLI, Alejandro. Internet, la<br />

imprenta del siglo XXI. Barcelona: Gedisa, 2005.<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />

<strong>FAEEBA</strong> <strong>25</strong> <strong>anos</strong>.indd 168 2/2/2011 13:45:13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!