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Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb

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No decorrer da pesquisa acadêmica que embasou<br />

este artigo, as buscas por trabalhos que<br />

abordassem a temática do sucesso escolar, ou de<br />

categorias similares, resultaram num vazio assustador.<br />

Em cinco universidades pesquisadas 2 não<br />

foram encontradas publicações relevantes sobre o<br />

tema. Buscas nos trabalhos publicados pela Capes<br />

também demonstraram um total vazio. Entretanto,<br />

sendo a categoria “fracasso escolar”, apenas na<br />

USP 3 foram identificados mais de cem trabalhos<br />

publicados entre teses e dissertações.<br />

Considerando os argumentos anteriores, este<br />

artigo defende que as pesquisas acadêmicas carecem<br />

de se voltar também para a temática do sucesso escolar,<br />

ou a objetos de pesquisa similares, no intuito<br />

de fomentar uma cultura voltada para as possibilidades,<br />

bem como, disseminar experiências que servem<br />

de inspiração para pesquisadores e profissionais que<br />

atuam na educação. A naturalização, e porque não<br />

dizer, a cultura do fracasso, torna-se, muitas vezes,<br />

um obstáculo para se acreditar que é possível superar<br />

adversidades e fazer uma escola em que o natural<br />

seja aprender e não fracassar. Lyotard (2002, p.23)<br />

alerta: “Hoje, mais do que nunca, conhecer qualquer<br />

coisa é primeiro escolher a maneira de interrogá-la,<br />

que é também a maneira pela qual ela pode fornecer<br />

respostas.” Quijano (apud PATTO, 1993, p. 343)<br />

lembra que as ideias são prisões duradouras, mas<br />

não precisamos ficar nelas para sempre. Este é um<br />

dos sentidos deste artigo.<br />

Obviamente, olhar para o sucesso, assim como<br />

para qualquer outro fenômeno social, requer alguns<br />

cuidados fundamentais. Primeiramente, é preciso<br />

definir o que é sucesso. A polissemia deste termo<br />

e de outros, associados a ele, demanda tal clareza.<br />

Segundo Brougère (1998, p.18), “empregar um<br />

termo não é um ato solitário, mas subentende<br />

um grupo social para o qual este vocábulo faz<br />

sentido. [...] Toda denominação supõe um quadro<br />

sociocultural prévio transmitido pela linguagem<br />

e aplicado ao real”. Em sua clássica obra sobre<br />

sucesso escolar em camadas populares, Lahire<br />

(2004) faz uma análise sociológica desse objeto e<br />

também pontua a necessidade de situar historicamente<br />

esses termos:<br />

Não é papel do sociólogo dizer o que é ‘fracasso’<br />

e o que é ‘sucesso’ escolar. Estas palavras são categorias,<br />

primeiro e antes de tudo, produzidas pela<br />

Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 143-154, jul./dez. 2009<br />

Mônica M. Samia<br />

própria instituição escolar [...] Ao contrário, deve<br />

constatar e analisar as variações históricas e sociais<br />

destas noções um tanto vagas. Elas não são evidentes<br />

por diversas razões: de um lado porque o tema do<br />

‘fracasso’ (ou do ‘sucesso’) é o produto discursivo<br />

histórico de uma configuração escolar e econômica<br />

singular. Por outro lado, porque o sentido e as<br />

conseqüências do ‘fracasso’ e do ‘sucesso’ variam<br />

historicamente. (p.54)<br />

Assim, desde já é necessário esclarecer que,<br />

neste artigo, assim como na pesquisa, sucesso<br />

escolar está associado a ambientes e experiências<br />

em que se promove aprendizagem, ou seja, em que<br />

o direito à educação não se restringe ao acesso e à<br />

permanência na escola, mas avança para espaços<br />

onde se promove o direito de aprender, ou, sob a<br />

ótica do sujeito, onde se aprende.<br />

Neste esforço de conceitualizar ou, por que não<br />

dizer, recuperar um dos sentidos da palavra sucesso<br />

e, assim, ter licença para usá-la; uma ponderação de<br />

Placco (2008) torna-se pertinente e necessária:<br />

Em inúmeras ocasiões, temos tido muitos conceitos<br />

e palavras “roubados” de nós, pois são usados com<br />

sentidos políticos ou ideológicos diversos dos nossos<br />

e temos que deixar de usá-las. No entanto, enfatizo<br />

também a necessidade de que nos reapossemos<br />

dessas palavras e conceitos e lutemos para que seu<br />

sentido possa ser ressignificado pela área da Educação.<br />

(PLACCO, 2008, p. 738).<br />

Cabe ainda destacar que, nesta abordagem,<br />

sucesso escolar está relacionado ao nível de<br />

aprendizagem dos alunos, neste caso, seu bom<br />

desempenho a partir de um indicador nacional, o<br />

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica<br />

(Ideb) 4 . Este parâmetro, utilizado para “medir”<br />

ou indicar os resultados de aprendizagem, é questionável,<br />

impreciso e parcial, próprio da natureza<br />

de qualquer instrumento de avaliação. Há muitas<br />

2 USP, Unicap, Ufba, <strong>Uneb</strong>, UnB.<br />

3 Em 2004, Patto et al., escreveu um artigo sobre o estado da arte<br />

das pesquisas sobre fracasso escolar no Brasil entre os <strong>anos</strong> de 1991<br />

e 2002, na Universidade de São Paulo - USP. Apenas neste período<br />

foram identificadas 71 obras, entre teses e dissertações.<br />

4 Indicador de qualidade educacional que combina informações sobre<br />

desempenho escolar em exames padronizados (Prova Brasil ou Saeb) –<br />

obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do<br />

Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio) –, com informações<br />

sobre rendimento escolar, a partir das taxas de aprovação, reprovação<br />

e abandono, obtidas no Censo Escolar.<br />

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