Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Territórios de aprendizagem: um olhar sobre experiências de sucesso escolar<br />
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well as how they relate and contribute to good outcomes. The data analysis indicated<br />
three lines of research, namely: focus on learning, teacher’s profile and collaborative<br />
culture. This article aims to present and disseminate this work and, by doing so, to<br />
contribute to a more equitable and inclusive education as well as enhance research<br />
on new learning fields.<br />
Keywords: Educational attainment. Focus on Learning. Teacher’s profile.<br />
Collaborative culture.<br />
Introdução: da naturalização do fracasso<br />
à possibilidade do sucesso<br />
Na história da educação brasileira estamos<br />
fartos de histórias de fracasso. O mapeamento dos<br />
problemas, desafios e descasos já foi amplamente<br />
realizado. Experiências de fracasso foram e ainda<br />
são objeto de inúmeras pesquisas. Já se aprendeu<br />
muito com elas; dissecando-as, examinando-as,<br />
compreendendo-as. Muito conhecimento foi produzido<br />
a partir do que não deu certo, do que não<br />
foi possível, analisando a vida de tantos meninos,<br />
meninas, jovens, professoras e professores que tiveram<br />
à sua frente dificuldades não vencidas e desafios<br />
grandes ou complexos demais para serem enfrentados.<br />
Para boa parte dos envolvidos, as adversidades<br />
contextuais e estruturais do cenário educacional<br />
brasileiro sempre se constituíram em obstáculos<br />
para se realizar um projeto de educação que garanta<br />
dignidade a quem é profissional e oportunidades<br />
significativas de aprendizagem aos alunos.<br />
Assim, pesquisas sobre fracasso escolar no<br />
Brasil ocuparam, e ainda ocupam, muito tempo<br />
dos acadêmicos, que legitimamente anseiam por<br />
compreender este fenômeno, quer seja nas perspectivas<br />
histórica, política, pedagógica ou psicológica.<br />
Não há dúvida de que muito se aprendeu sobre os<br />
desafios da educação brasileira e as possibilidades<br />
de superação, a partir de investigações desta<br />
natureza. Em 1990, a obra de Patto, “A produção<br />
do fracasso escolar”, representou uma referência<br />
importante para pesquisas sobre este objeto. Essa<br />
autora, em parceria com outras estudiosas da Universidade<br />
de São Paulo (USP), escreveu, em 2004,<br />
um artigo sobre o estado da arte das pesquisas<br />
sobre fracasso escolar no Brasil, entre os <strong>anos</strong> de<br />
1991 e 2002, naquela universidade. Apenas nesse<br />
trabalho foram identificadas 71 obras, entre teses<br />
e dissertações.<br />
Também não se discute a pertinência da análise<br />
dessa problemática, tendo em vista os vários<br />
cenários e indicadores sociais e educacionais 1 que<br />
atestam que um dos grandes desafios da educação<br />
atual é que os estudantes brasileiros estejam na<br />
escola APRENDENDO.<br />
Entretanto, é urgente questionar se a continuidade<br />
da análise da problemática educacional sob<br />
a ótica do fracasso é o melhor, ou pelo menos o<br />
único caminho frutífero para as pesquisas na área<br />
de educação. Esta reflexão parte da inquietação de<br />
que, embora não se questionem as contribuições das<br />
pesquisas sobre o fracasso para a compreensão da<br />
realidade, esta ênfase também pode ter contribuído<br />
para o fortalecimento de um determinado modo<br />
de olhar para a realidade da educação pública<br />
brasileira, que, de alguma forma, naturalizou essa<br />
condição da escola como produtora de fracasso,<br />
tornando este resultado um “lugar comum”, quase<br />
uma condição da escola e uma condenação dos<br />
estudantes, visto que, em geral, as experiências de<br />
fracasso não causam estranheza aos educadores,<br />
embora causem incômodo. O fato é que historicamente<br />
houve um investimento tão intenso – e necessário<br />
– para se compreender esse fenômeno que,<br />
ao fazê-lo, mesmo sem essa intenção, os muitos<br />
motivos atribuídos ao fracasso contribuíram para<br />
o fortalecimento dessa cultura como inerente aos<br />
contextos educativos em diferentes épocas.<br />
1 Segundo o relatório Situação da Infância e Adolescência Brasileira<br />
(Sjab)/2009, apesar de passar em média dez <strong>anos</strong> na escola, os estudantes<br />
brasileiros completam pouco mais de sete séries. Apenas 64%<br />
conseguem finalizar o Ensino Fundamental com a idade esperada de<br />
14 <strong>anos</strong>. Em relação ao Ensino Médio essa taxa cai para 47%. Outro<br />
indicador educacional relevante é o Índice de Desenvolvimento da<br />
Educação Básica (Ideb), que tem como meta atingir a média 6,0<br />
em 2015. Em 2005, dos 5.563 municípios brasileiros, 1.242 foram<br />
considerados prioritários para as ações de intervenção do Ministério<br />
da Educação porque tinham Ideb – Ensino Fundamental <strong>anos</strong> iniciais<br />
– abaixo da média nacional para 2005 de 3,8.<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 143-154, jul./dez. 2009<br />
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