Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Através dela e nela, nos aproximamos do discurso<br />
inaugural das nossas comunalidades de onde<br />
transbordam modos e formas de comunicação atravessados<br />
por narrativas sobre os princípios fundadores<br />
das comunidades, tradições, a transcendência<br />
do viver, a importância do corpo comunitário, as<br />
estratégias de continuidade da herança cultural dos<br />
antepassados, a dignidade característica dos povos<br />
constituintes dessa civilização, comunica também<br />
quem nós somos e a importância do legado desses<br />
vínculos de sociabilidade.<br />
Portanto, é afirmar o discurso fundador das<br />
comunalidades nos espaços institucionais que o<br />
desconhecem, estabelecendo perspectivas políticas<br />
que legitimem a trajetória de todos aqueles que contribuíram<br />
e colaboraram para expandir os vínculos<br />
de sociabilidade africano-brasileira.<br />
Um legado de muito valor sobre as nossas<br />
comunalidades na Bahia é da saudosa Mãe Hilda<br />
Jitolú, destacando, por exemplo, a importância do<br />
Ilê Aiyê para muitas gerações:<br />
Que seja aqui um ponto como é que vêm pessoas<br />
dos bairros, das escolas, de faculdade, de ginásio, se<br />
orientar por aqui, levar um pouco dessa história para<br />
fora. Já é uma coisa que não é só aquele português<br />
que veio de Portugal, agora estamos tendo também<br />
a filosofia negra, ta entendendo? Sendo válida. Isso<br />
eu fico muito contente quando vejo as pessoas virem<br />
aqui. (JITOLÚ, p.15)<br />
O que Mãe Hilda realça com muita sabedoria é<br />
a importância de reconhecermos que há uma episteme<br />
africano-brasileira e aprendermos a recorrer<br />
a ela para falarmos sobre o nosso solo de origem,<br />
sobre quem nós somos.<br />
Mais uma vez, o legado das nossas Iyás ratifica<br />
que as abordagens que devem orientar o pensamento<br />
e iniciativas sócio-políticas, ainda que sejam no<br />
interior das Universidades na Bahia e no Brasil,<br />
devem seguir a pulsão de sociabilidade que atravessa<br />
as nossas territorialidades e que se expande<br />
de modo extraordinário ao longo dos séculos.<br />
Apelo para o universo ético-estético dos ideogramas<br />
afric<strong>anos</strong> e nele um tem significado muito<br />
especial na nossa trajetória - Sankofa. Aprendi que<br />
se você sabe quem você é, a sua origem, sempre vai<br />
fazer o exercício de: “voltar e apanhar o que ficou<br />
para trás. Aprender com o passado, construir sobre<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 75-94, jul./dez. 2009<br />
Narcimária Correia do Patrocínio Luz<br />
as fundações do passado. Em outras palavras, volte<br />
às suas raízes e construa sobre elas para [...] a prosperidade<br />
de sua comunidade em todos os aspectos<br />
da realização humana.” (LARKIN, 2005, p.37)<br />
Através dessa “serenidade” anunciada por<br />
Fanon, é que nos animamos a escrever este texto,<br />
fazendo uma breve retrospectiva das nossas vivências<br />
no âmbito da Universidade do Estado da Bahia,<br />
com destaque para a nossa atuação como professora<br />
e pesquisadora na antiga Faculdade de Educação<br />
do Estado da Bahia (Faeeba), hoje Departamento<br />
de Educação do Campus I.<br />
Para nós, a Faeeba representou um lócus<br />
institucional valioso, já que nos seus interstícios<br />
encontrávamos condições favoráveis para erguermos<br />
movimentos de insurgência à ideologia do<br />
recalque. Através desses movimentos de insurgência,<br />
conseguimos compor e fomentar iniciativas<br />
primordiais vinculadas à legitimação das comunalidades<br />
africano-brasileiras e como impacto e<br />
repercussões das mesmas, destacaremos: o Núcleo<br />
de Educação Pluricultural (NEP), o Centro de<br />
Estudos das Populações Afro-Indo Americanas<br />
(Cepaia), iniciativas que nos encorajaram a propor<br />
o Programa Descolonização e Educação (Prodese)<br />
e o Programa de Pós-Graduação em Educação e<br />
Contemporaneidade.<br />
Abrindo perspectivas nos interstícios<br />
institucionais<br />
No final da Idade Média, as Universidades<br />
costumavam utilizar a disputatio como índice de<br />
conhecimento e de produção da verdade. A disputatio<br />
consistia na utilização da retórica por dois<br />
adversários que se confrontavam recorrendo a<br />
inúmeros autores que serviam como “testemunhos<br />
de verdade”. Sairia vencedor aquele que apresentasse<br />
mais argumentos, critério imprescindível<br />
para convencer e justificar a autoridade sobre o<br />
conhecimento em disputa.<br />
Dentro da escolástica medieval a disputatio era com<br />
a lectio, um dos métodos essenciais e onipresentes de<br />
ensino e pesquisa, bem como uma técnica de exame<br />
nas Universidades a partir do início do século XIII.<br />
O termo designará progressivamente os debates<br />
sobre assuntos de Teologia, primeiro entre judeus e<br />
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