Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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Então, o que se desprende disso tudo é que a<br />
Universidade tem que responder, e responsabilizarse<br />
na sua resposta, formando “comunidades” que<br />
promovam o pensar e seus jogos ilimitados de<br />
linguagem. Cremos que é nesse mesmo sentido<br />
se deve entender a proposição também de Derrida<br />
do seu ensaio “A Universidade sem condição”,<br />
quando ele afirma que “Eis, portanto, o que poderíamos,<br />
valendo-nos dela, chamar a Universidade<br />
sem condição: o direito de princípio de dizer tudo,<br />
ainda que a título de ficção e de experimentação<br />
do saber, e o direito a dizê-lo publicamente, de<br />
publicá-lo” (DERRIDA, 2003, p. 18). Por isso, a<br />
regra da “interdisciplinaridade crítica” que Barnett<br />
propõe, deveria ser imediatamente complementada<br />
com essa outra da responsabilidade desconstructiva,<br />
quer dizer, com o fato de que a Universidade<br />
contemporânea exista para poder-se dizer tudo:<br />
essa regra é seu poder e seu direito.<br />
Uma consequência importante, da aplicação<br />
dessa regra, e que nos interessa aqui também, é a<br />
seguinte: se na ciência, e provavelmente, de modo<br />
distinto, na cultura, as formas de pensar, de investigar<br />
etc., se pautam por formas de impugnação, de<br />
incerteza, de câmbio sistemático, de efemeridade,<br />
etc., não sabemos se a Universidade, como organização<br />
administrativa, pode assumir essas formas,<br />
sem negociar, ou fazer participar, um mínimo de<br />
programação organizada das atividades de pesquisa<br />
e de ensino; mas um tipo de programação a curto,<br />
mediano e longo prazo, se queremos falar assim,<br />
que busque estimular e desenvolver, aquilo que<br />
Barnett, Derrida e Lyotard pensam como o debate<br />
necessário que obrigue os docentes e os pesquisadores<br />
a confrontar publicamente seus projetos,<br />
propostas e posições acadêmicas e científicas entre<br />
eles e com o “fora” da Universidade. Isso supõe<br />
que as formas organizacionais da universidade<br />
tenham que mudar, no sentido da criação e da<br />
gestão de espaços que garantam a produção efetiva<br />
de pesquisas e de pedagogias que promovam esta<br />
nova responsabilidade. Para isso, e em relação com<br />
a universidade pública, tem que tratar de romper<br />
com o casuísmo político, com a hiper-politização<br />
das discussões epistemológicas, ou acadêmicas,<br />
etc., sem deixar de respeitar a tradição política da<br />
Universidade na transformação social em todos<br />
os tempos; e no caso das universidades privadas,<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 161-176, jul./dez. 2009<br />
Fernando Juan García Masip<br />
temos que tentar desmontar minimamente o superdomínio<br />
hierárquico da estrutura burocrática<br />
privada e dos donos do negocio, obrigando-as a<br />
fazer publicamente suas prestações de contas, tanto<br />
financeiras como de pesquisa, como já acontece em<br />
muitos países e em muitas universidades.<br />
3.2. O auto-escrutínio coletivo<br />
“Embora esteja no meio da supercomplexidade,<br />
a Universidade tem a responsabilidade de fazer<br />
possível o auto-escrutínio sistemático no seio de<br />
si própria”. (BARNETT, 2002, p. 143)<br />
A Universidade tem que aceitar a avaliação e a<br />
auto-avaliação, efetiva, sistemática e permanente,<br />
feita tanto por agências estatais como por instâncias<br />
institucionais das próprias universidades,<br />
e além do mais, compreender que a avaliação é<br />
parte integrante do sentido de ser da época atual.<br />
Mas o que também acreditamos, além disso, é<br />
a necessidade concomitante, da discussão, com<br />
rigor, das formas, dos métodos, dos parâmetros<br />
da avaliação desse acontecer universitário, porém<br />
sob o seguinte “principio”: a universidade é um<br />
espaço de produção de saberes que precisa ser sistematicamente<br />
questionado e, como consequência,<br />
avaliado. A autonomia universitária necessita ser<br />
entendida como parte do valor contemporâneo do<br />
debate aberto e público, o qual também inclui as<br />
universidades privadas e seus orçamentos particulares<br />
para a pesquisa. Esse “principio”, ou valor, tem<br />
que ser encarado de maneira pragmática: nenhuma<br />
instituição tem hoje o direito de restringir o acesso<br />
a toda e a qualquer informação sobre os cidadãos,<br />
ou sobre seu bem-estar passado, presente e futuro.<br />
Nesse sentido, a pesquisa acadêmica ou de ponta<br />
necessita ser imediatamente debatida e explicada<br />
socialmente, como já ocorre com cada vez maior<br />
freqüência: veja-se a rapidez com que as questões<br />
relativas ao genoma humano e às células mães<br />
arrastaram debates acalorados em quase todos os<br />
níveis culturais, religiosos e políticos num importante<br />
número de países do planeta.<br />
Esta simples regra barnettiana coexiste com a<br />
anterior, mas, muitas vezes, as universidades, na<br />
prática, não cumprem rigorosamente com sua capacidade<br />
de escrutínio e de auto-escrutínio. Repete-se<br />
muito a posição kantiana de que é na Universidade,<br />
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