Número Especial: FAEEBA 25 anos PPGEduC 10 anos - Uneb
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A pedagogia de Manuel Tranquillino Bastos<br />
ao lado de peças musicais compostas por eles e<br />
por autores brasileiros e bai<strong>anos</strong>, inclusive com<br />
ritmos muito próprios, característicos da cultura<br />
musical brasileira, como lundus, chulas, passeatas<br />
e dobrados.<br />
Ser músico, formar músicos no Recôncavo<br />
da Bahia, implicava num conhecimento de certa<br />
forma erudito – já que implicava na leitura da linguagem<br />
musical, na execução de peças elaboradas<br />
e requintadas, com instrumentos de ponta, naquele<br />
momento. A cidade de Cachoeira, cosmopolita,<br />
porto de saída da produção de fumo de corda e charutos<br />
fabricados por empresas estrangeiras como a<br />
Dannemann e Suerdick, comunicava-se não apenas<br />
com a cidade de Salvador, mas com outros portos<br />
do Brasil e de outras partes do mundo, permitindo<br />
acesso à produção não apenas de partituras como<br />
de instrumentos musicais. Permitia, portanto, trocas<br />
culturais.<br />
5. Considerações Finais<br />
Ao longo de pelo menos duzentos <strong>anos</strong>, no<br />
Brasil, conhecimento musical e cidadania foram<br />
transmitidos de geração a geração pelas hábeis<br />
mãos dos Mestres de Banda e suas corporações, organizadas<br />
em sociedades civis sem fins lucrativos.<br />
Durante todo esse tempo, Mestres como Manuel<br />
Tranquillino Bastos elaboraram e/ou reelaboraram<br />
formas e maneiras de transmitir esse conhecimento,<br />
buscando pedagogicamente através da prática e<br />
teoria os melhores caminhos para essa transmissão.<br />
Esta pesquisa, que buscou compreender a pedagogia<br />
e o pensamento de Manuel Tranquillino Bastos<br />
pelo estudo de seu maravilhoso legado de obras,<br />
pode afirmar a existência de toda uma criação pedagógica<br />
calcada numa vasta e intensa atividade<br />
prático-musical e teórico-pedagógico.<br />
226<br />
REFERÊNCIAS<br />
Nosso trabalho revelou um músico-educador<br />
de grande estirpe com uma organização e criação<br />
musical muito elaborada e subsidiada por horas<br />
de labor e estudo, dedicando-se a educação de<br />
cidadãos cachoeirenses e bai<strong>anos</strong>, a criação de<br />
sociedades cultural-musicais, civis e a outros movimentos<br />
sociais como o abolicionismo.<br />
A literatura didática produzida e consultada por<br />
Tranquillino dá norte para entendermos que a transmissão<br />
do conhecimento via bandas e filarmônicas<br />
era feito dentro de uma prática pedagógica consequente<br />
e experimentada ao longo de mais de setenta<br />
<strong>anos</strong> por este Mestre, seguindo os rigores de uma tradição<br />
educacional-musical que tem como ponto de<br />
partida as bandas de música da Europa, mas refeitas<br />
pelas múltiplas formas de expressão dos músicos no<br />
Brasil, e pela releitura daquelas experiências, como<br />
vimos no caso das bandas de píf<strong>anos</strong>.<br />
Por fim, chamou-nos a atenção a composição<br />
das bandas por homens negros, (como pudemos<br />
verificar nas fotos das bandas de Cachoeira, Bahia)<br />
na sua maioria. Músicos eram, assim, trabalhadores,<br />
membros das classes populares. Negro também<br />
era Manuel Tranquillino Bastos, mestiço, filho de<br />
ex-escrava, autodidata, que aprende o seu ofício<br />
na Irmandade de Santa Cecília, com outros músicos.<br />
Ser músico, naquele momento pós-abolição,<br />
significava uma possibilidade de trabalho, embora<br />
não necessariamente de prestígio ou de riqueza.<br />
Significaram as artes, em especial, no nosso caso,<br />
a música, um nicho de trabalho para os negros,<br />
sendo na Bahia a alegria, a festa e a beleza, não<br />
só formas de expressão, mas também formas de<br />
ganhar a vida...<br />
Esperamos que este trabalho contribua para a<br />
compreensão e estudo da atuação das bandas e filarmônicas<br />
como mecanismos de desenvolvimento<br />
cultural da sociedade brasileira.<br />
BASTOS, Manuel Tranquillino. Caderno de anotações, 19<strong>10</strong>-1924 (?). Salvador: Acervo de Jorge Ramos, s/d.<br />
_____. Minhas percepções. Acervo Manuel Tranquillino Bastos. Salvador. Biblioteca Pública do Estado da Bahia,<br />
1930 (?).<br />
BASTOS, Oscar; TEIXEIRA, Carlos D’Ávila. Relação de obras musicais do Acervo do Maestro Manuel Tranquilino<br />
Bastos. Salvador: Biblioteca Pública do Estado da Bahia,<br />
Revista da <strong>FAEEBA</strong> – Educação e Contemporaneidade, Salvador, número especial, p. 213-228, jul./dez. 2009<br />
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